A ilha da Bela Vista foi reabilitada mas há problemas que persistem
Em 2016, as 43 habitações da ilha da Bela Vista transformaram-se em 35, com melhores condições. A intervenção assume-se como um projecto experimental de reabilitação urbana na cidade, mas os residentes identificam problemas.
A reabilitação feita em 2016 da ilha da Bela Vista, na Rua D. João IV, é encarada pela autarquia como um exemplo a ser replicado noutros aglomerados habitacionais da cidade. Dois anos depois, os moradores reconhecem melhorias, mas apontam falhas e destacam a ausência de equipamentos previstos no projecto.
António Fontelas nasceu na ilha da freguesia do Bonfim e admite que esta, “por fora”, está “mais bonita”. Dentro de quatro paredes, contudo, a conversa é outra e o presidente da associação de moradores tem recebido queixas. “Os vizinhos vêm ter comigo porque caem pingas da banca, porque as persianas não abrem, porque as madeiras estão a dar de si e saem fora do sítio, porque os puxadores dos quartos ficam nas nossas mãos”, explica, acrescentando que os residentes não conseguem abrir um dos portões que dá entrada para a ilha.
O morador concorda que o problema de humidade nas habitações foi solucionado mas salienta a inexistência de estruturas para a associação de moradores, o centro de convívio e a lavandaria, ao contrário do que previa o projecto desenvolvido pelo gabinete Cerejeira Fontes Arquitectos, em parceria com o Laboratório de Habitação Básica e Social (LAHB Social).
“Eu estou satisfeito com a arquitectura, só não estou satisfeito com a especialidade da engenharia que a Domus Social escolheu. Temos o saneamento com águas fluviais e é um cheiro que sai daqui... Muita gente não pode com este cheiro”, comenta.
O processo de reabilitação passava ainda pela permanência de todos os moradores no local, dando preferência àqueles que ali regressavam, facto que António Fontelas diz não ter acontecido. Somente as restantes casas deveriam ser integradas no mercado de habitação social da autarquia.
Olinda Costa está a morar com a filha e a neta, que se mudaram para a ilha da Bela Vista em Dezembro do ano passado. Ainda que viva um mês em casa de cada filha, não deixa de reparar nos problemas da ilha de cada vez que ali fica alojada. A água pinga do lava-loiças e confessa que não se lembra de ver a cozinha sem um balde debaixo da banca. De noite, conta Olinda Costa, ouvem-se as persianas a “abanar” e o tecto a “levantar”.
“A minha filha já está arrependida de vir, teve de se desfazer das coisinhas dela todas. A casa não tem espaço, é muito pequenina. Só o quarto dela é que é um bocadinho grande, onde eu durmo cabe uma cama de solteiro e uma mesinha de cabeceira aos pés e outra para os medicamentos. É o que eu tenho no meu quarto, mais nada”, afirma.
Filomena Silva mora na ilha da Bela Vista, uma das três pertencentes ao município, desde Outubro do ano passado. Para a residente, o T2 onde vive apresenta boas condições, para além de que na ilha não falta espaço para o filho brincar em segurança no exterior. Ainda assim, admite que há falhas. “A minha banca da cozinha deita água desde que eu entrei, lá em cima no quarto onde o meu filho dorme, à noite, às escuras, vê-se perfeitamente luz do exterior a entrar, o que quer dizer que o isolamento não está bem feito. O último piso tem o silicone em falta”, nota.
A residente tem contactado a Domus Social, empresa que gere o parque habitacional público municipal, desde Janeiro, mas até à data não teve resposta.
Segundo Filomena Silva, na visita que a Câmara do Porto organizou na quarta-feira da semana passada a algumas ilhas da cidade, a propósito da sessão pública “Arquipélago”, os moradores foram informados de que, no dia seguinte, um técnico se iria deslocar ao local para solucionar alguns dos problemas apontados. Até ao final dessa semana, a moradora assegura que não tinha aparecido nenhum técnico da empresa municipal.
O PÚBLICO contactou a Câmara do Porto no sentido de obter esclarecimentos, mas até ao momento o gabinete de imprensa não deu qualquer resposta.
Texto editado por Ana Fernandes