Ian McEwan precisava de outras unhas
Os actores são bons, e o filme tem aquela solidez de produção britânica de “prestígio”. Mas tudo isso é magro consolo perante obra tão decepcionante.
Que o próprio Ian McEwan assine o argumento, adaptado do seu romance homónimo, faz de Na Praia de Chesil algo muito próximo de uma versão autorizada e “oficial”. Será, portanto, “correcta”, do ponto de vista da factura e da fidelidade ao espírito do original literário. Não obstante, precisava de outras unhas, precisava de um realizador menos ilustrativo, menos “escolar” na sua relação com o argumento — tanto mais que é uma história que se passa na cabeça das personagens, feita de pensamentos, sensações e memórias.
A relação deste lado introspectivo com as imagens (portanto, com as acções) resulta bastante fraca, como se nada falasse por si, e como se Cooke não acreditasse verdadeiramente nas imagens que encena (precisando das palavras para revelar o que não se vê) nem nas palavras que faz ouvir (precisando das imagens para as confirmar). Para atestar isto bastaria a cena crucial, a da noite de núpcias catastrófica, que fica a milhas de conseguir sugerir o abismo que ali se abre em cada um dos membros do casal.
Eles — os actores— são bons, e o filme tem aquela solidez de produção britânica de “prestígio”, mas tudo isso é magro consolo perante obra tão decepcionante.