Demissões no Centro Hospitalar Lisboa Central por falta de condições na urgência

Equipa fixa da urgência e médicos internistas já se tinham queixado da falta de condições e recursos humanos em duas cartas enviadas à administração no final de 2017 e início deste ano.

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Mario Lopes Pereira

Os chefes de equipa de medicina interna e cirurgia geral do Centro Hospitalar de Lisboa Central apresentaram a demissão por considerarem que as condições da urgência não têm níveis de segurança aceitáveis, disse à Lusa fonte sindical.

A agência Lusa teve acesso à carta que contém o pedido de demissão destes chefes de equipa do Centro Hospitalar de Lisboa Central (CHLC), que integra o São José, tendo o secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos confirmado que o documento foi entregue à administração.

Na carta, os profissionais apontam para a consecutiva degradação da assistência médica prestada no serviço de urgência do hospital São José, considerando que se chegou a uma "situação de emergência" que impõe "um plano de catástrofe".

"Os chefes de equipa de medicina interna e de cirurgia geral, responsáveis pelos cuidados médicos de urgência prestados durante o seu período de serviço, consideram que as actuais condições de assistência no serviço de urgência do hospital de São José ultrapassaram, em várias das suas vertentes, os limites mínimos de segurança aceitáveis para o tratamento dos doentes críticos que diariamente a ele recorrem", refere a carta.

Os profissionais indicam que a assistência prestada na urgência "tem vindo a sofrer, ao longo dos últimos anos, uma degradação progressiva constatada por todos os profissionais" que lá trabalham. Consideram que a falta de pessoal não se verifica apenas nas equipas de medicina interna e de cirurgia geral, mas também noutras especialidades implicadas na assistência aos doentes que recorrem ao serviço de urgência. Segundo a carta, muitas vezes o elemento mais diferenciado é "o interno dos últimos anos da respectiva especialidade".

Fonte da administração do centro hospitalar confirmou ao PÚBLICO a recepção da carta de demissão. "A administração reconhece que existem situações que não estão bem e que são ali retratadas", disse a mesma fonte, adiantando que têm existido reuniões permanentes e que estas vão continuar a existir "à procura de soluções para os problemas que existem".

Queixas antigas

Tal como o PÚBLICO noticiou em Fevereiro, as queixas dos profissionais sobre as condições do serviço de urgência remontam, pelo menos, ao final do ano passado, quando o conselho de administração recebeu uma primeira carta, a 29 de Dezembro, da equipa fixa da urgência. A 12 de Janeiro uma segunda carta chegou às mãos da administração, desta vez encaminhada pelos médicos de medicina interna (especialidade que mais contribui com médicos na equipa fixa da urgência).

Nessas duas cartas, os médicos queixavam-se das condições da urgência, da falta de pessoal clínico para reforçar as equipas e de falhas do sistema informático. A equipa fixa da urgência apontava uma “clara subdimensão” do espaço e da equipa por “insuficiente contratação”. Também os internistas chamavam a atenção para o número reduzido de médicos nas equipas de urgência de medicina interna e para o seu “grau de diferenciação cada vez menor”, que “não permite assegurar níveis de qualidade” adequadas à assistência dos doentes.

Nessa altura a administração do CHLC reconhecia ao PÚBLICO que a falta de profissionais "não é um exclusivo do hospital São José" e é ainda "uma herança da crise". E destacava a contratação de “mais de 15 médicos internistas” desde 2016, para as oito enfermarias dos serviços de urgência do CHLC. Quanto às urgências, a administração adiantou que tinha sido aprovado em Dezembro um concurso para a realização de obras. Fonte da administração adiantou esta sexta-feira que o início das obras está para breve.

Já em Maio, o director da urgência dizia que se tratava “de uma má notícia" o anúncio que a partir de Junho o apoio da radiologia ao serviço de urgência nocturno do hospital São José passasse em parte a ser efectuado com recurso à telemedicina. A administração explicou então que o recurso à telerradiologia é comum nos hospitais nacionais e internacionais e assegurou que não havia "prejuízo para os utentes nem quaisquer perdas de tempo ou qualidade face aos relatórios de exames produzidos pelos médicos residentes”.

Esta quinta-feira o Sindicato Independente dos Médicos (SIM) denunciou que o trabalho médico nocturno no serviço de urgência e na unidade de cuidados intensivos não está a ser correctamente pago. Ao PÚBLICO, o secretário-geral Jorge Roque da Cunha explicou em causa está o pagamento da última hora nocturna que não está a ser pago como tal. É considerado período nocturno entre as 20h00 e as 8h00 do dia seguinte.

À Lusa, o SIM referiu que vai avançar na próxima semana com um processo em tribunal para que os médicos recuperem o pagamento correcto entre as 7h00 e as 8h00 quando fazem serviço de urgência naquele centro hospitalar.