Matosinhos quer cinco milhões para reabilitar Bairro dos Pescadores

A autarquia candidatou-se em Março a um fundo de reabilitação urbana da Comissão Europeia. Em Setembro saem os resultados finais. Se a candidatura não for aprovada, a câmara diz que as obras de requalificação no bairro que apresenta sinais de degradação serão realizadas na mesma.

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asm ADRIANO MIRANDA

Desde a altura em que foi construído, entre 1948 e 1972, o Bairro dos Pescadores de Matosinhos poucas vezes foi alvo de obras de fundo. Está no centro da cidade, mas não está no melhor estado de conservação. Já há vários anos que os moradores reclamam por uma intervenção, sobretudo na área envolvente, já que se trata de um bairro de propriedade partilhada. Poderá ser desta que se avança. A autarquia diz que é, mas para isso é necessário passar por várias etapas.

Do conjunto habitacional composto por 319 fogos, apenas 49 são propriedade da câmara. A autarquia é responsável pela zona circundante e por pouco mais de 15 % das habitações e tem definida uma estratégia para intervir. Em Março avançou com uma candidatura ao Urban Innovative Actions: UIA, programa da Comissão Europeia que no final de Julho passa para a segunda fase até chegar a Setembro, quando saem os resultados finais. Se a candidatura chegar a bom porto a autarquia terá disponíveis 5 milhões de euros, valor que pediu, para passar à execução. Para isso, além de uma equipa composta por várias entidades parceiras terá de contar com a colaboração dos moradores que farão parte de uma comissão de trabalho para pôr o projecto em marcha.

No sentido de estreitar essa relação, a presidente da câmara, Luísa Salgueiro, e o administrador da empresa municipal Matosinhos Habit, Tiago Maia, reuniram-se esta terça-feira nos Paços do Concelho com parte dos habitantes do bairro que encheram a sala de reuniões públicas do executivo para dar a conhecer, em traços gerais, o projecto que contempla outras valências além da renovação do património já edificado.

Há um problema de acessibilidades para resolver. No “coração de Matosinhos”, e com uma nova artéria, a recentemente inaugurada rua Manuel Seabra, ainda há trabalho a fazer para que possa ganhar uma nova centralidade, nomeadamente na ligação ao metro, diz Tiago Maia. No bairro moram cerca de 1150 pessoas.

A intervenção passará pela requalificação das ruas, jardins e passeios e das fachadas e telhados dos edifícios. Novidade será a criação de hortas urbanas, em colaboração com a Lipor, e a instalação de ateliers e estúdios de trabalho para “criar uma nova dinâmica no bairro”. Ficará responsável por este sector a ESAD – Escola Superior de Artes e Design. A construção de um equipamento desportivo também é uma das prioridades.

Objectivo final diz o administrador, é melhorar a qualidade de vida dos residentes, tendo sempre a eficiência energética como pano de fundo. “Queremos abrir o bairro à cidade quer em termos físicos, quer sociais”, sublinha.

Além da Lipor e da ESAD, são também parceiros o CEiiA - Centro de Excelência para a Inovação da Indústria Automóvel e a APDL. O último contribuirá também com apoio logístico. Explica Luísa Salgueiro que durante o período das obras os moradores serão realojados temporariamente em contentores marítimos reutilizados e preparados para o efeito.

Moradores envolvidos na estratégia

Como a maior parte das habitações é propriedade dos moradores, a autarca sublinha que sem o consentimento e vontade dos proprietários as obras só serão feitas até à porta de casa: “Nos casos em que somos proprietários também podemos fazer obras no interior. Nos outros casos cada um decidirá aquilo que quer fazer”. Quem mostrar interesse poderá também ser contemplado.

Por isso, considera fundamental que os moradores constituam condomínios para facilitar a organização edifício a edifício. A autarquia salienta que este “não é um projecto fechado”. De resto, no mesmo dia, moradores de dois prédios do bairro reuniram-se na câmara já com condomínio formalizado.

Os moradores, que participaram em número e nalguns casos efusivamente, intervieram para dar conta das questões que consideram mais urgentes. Queixam-se do estado dos passeios ou da falta deles, de um parque infantil que está fechado há 30 anos, e da inexistência de um ringue de futebol. Dizem que há um campo de futebol que para ser usado tem de ser pago.

O estado de “degradação” do bairro e o tempo de espera para que seja levada a cabo uma intervenção de fundo são referidos por alguns residentes. Há quem demonstre alguma descrença. A câmara diz que é tempo de avançar.

“E se o financiamento não for aprovado?”, há quem pergunte. Luísa Salgueiro diz que se avança na mesma.

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