“Identifiquei na universidade um sentimento de alguma desilusão com a acção do reitor”
António Sousa Pereira ganhou as eleições para reitor da Universidade do Porto (UP) contra as previsões, derrotando o detentor do cargo, Sebastião Feyo de Azevedo, por apenas um voto.
Não tem sido muito comum nos últimos anos, reitores em funções não serem reeleitos. A que atribuiu a sua vitória?
Identifiquei na universidade um sentimento de alguma desilusão com a acção do reitor. A certa altura fui estimulado a corporizar esse sentimento.
Venceu a eleição por um voto no Conselho Geral (CG). Herda uma universidade dividida?
Penso que não. Na equipa reitoral fixei todas as correntes de sensibilidade e convidei para vice-reitores dois membros do CG [António Cardoso, da Faculdade de Engenharia, e Pedro Rodrigues, do ICBAS]. Construí uma equipa que é transversal às várias correntes de opinião.
Quais eram os pontos críticos da actuação do anterior reitor?
Nos últimos anos, a UP envolveu-se numa discussão interna que tinha a ver com a reconfiguração da sua estrutura [que faculdades a universidade devia manter]. Isso gerou divisões. Pretendia-se que houvesse mais transversalidade, mais aproximação entre as escolas, mas a maneira como a discussão foi conduzida levou a que as escolas se fechassem cada vez mais.
Quais as áreas onde vai centrar a sua atenção como reitor?
Há uma questão essencial que é pacificar o ambiente na universidade. Não há guerras, mas há sentimentos de desconforto latentes, que eu gostaria que se desvanecessem de maneira a permitir uma cooperação mais franca entre os vários interlocutores. Depois quero promover a internacionalização, que não passe só pelos estudantes, mas que passe pela internacionalização das nossas equipas de investigação, tornando a UP seja um agente internacionalmente reconhecido e que integre redes de conhecimento transnacionais.
Em termos de edifícios e equipamentos, onde estão os problemas mais prementes da UP?
A situação das Belas-Artes que é dramática. Aquilo não tem realmente as condições mínimas de funcionamento. A universidade recentemente vendeu algum património e eu acho justo que se reinvista esse dinheiro na melhoria das condições e na manutenção das infra-estruturas. As Belas Artes estarão na primeira linha para beneficiar desse investimento.
Poucos dias depois da sua eleição, foi noticiado que, até 2014, foi simultaneamente professor na universidade e prestava serviços médicos a alunos e funcionários, através dos Serviços de Acção Social (SASUP). Como é que essa situação surgiu?
Foi uma proposta do professor Alberto Amaral [que era o reitor da UP em 1990, quando começou esta relação] e sempre mantive as duas coisas. Nunca tive exclusividade [como professor] e mantive sempre a prática clínica. Nessa altura, fui convidado, estabeleceram as condições em que o serviço devia funcionar, que era um serviço de cariz social, porque cobrava aos alunos menos de metade do que cobrava no consultório.
Cobrou sempre as consultas, desde o início?
Sim. Era a condição que havia, porque de outra maneira não teriam condições para pagar. Começou por ser um serviço próprio, que funcionava à beira do estádio do Bessa, e havia três médicos na altura. Depois, passamos para os SASUP, quando foi criada a universidade fundação [2009].
Desde o início que passava os recibos aos funcionários em nome da sua clínica privada?
Sim, era essa a condição. Não fui eu que determinei as condições em que funcionava o serviço.
Em algum momento foi contactado pelo Ministério Público ou por alguma outra entidade que estivesse a investigar a legalidade da situação?
Não. A haver alguém que fosse contactado, na eventualidade improvável de haver aí alguma situação menos regular, seria a minha entidade patronal. Eu era um mero prestador de serviço no âmbito da minha actividade privada, que sempre tive. Só passei a ter exclusividade este mês, depois de ganhar as eleições.