Danos colaterais

Uma variação de Sicario que partilha personagens e cenários, menos conseguida mas igualmente incisiva no modo desencantado como vê a fronteira.

Como uma tragédia em câmara lenta: Guerra de Cartéis
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Como uma tragédia em câmara lenta: Guerra de Cartéis
Benicio del Toro, Sicario: Dia do Soldado, YouTube, Film
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Benicio del Toro, Sicario, México - fronteira dos Estados Unidos, filme
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Benicio del Toro, Josh Brolin, Denis Villeneuve, Sicario: Dia do Soldado, Sicario, Matt, YouTube
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Benicio del Toro, Sicario: Dia do Soldado, Alejandro, Matt, Guerra às Drogas Mexicana
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Sicario, Benicio del Toro, Alejandro, Kate Macy
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“Vocês não queriam uma guerra?” pergunta, às tantas, o mercenário. “Mas vocês mataram 25 polícias e agora temos um incidente diplomático em mãos”, responde-lhe a responsável política. São as consequências no mundo real das decisões políticas tomadas num vácuo que nunca leva em conta o que se passa lá fora que voltam a interessar Taylor Sheridan, argumentista deste segundo Sicario como já o fora do primeiro, realizado em 2015 por Denis Villeneuve. Guerra de Cartéis não é uma sequela daquele filme (sobre uma agente do FBI apanhada nos pântanos morais da “guerra contra as drogas”), antes uma outra história que com ela partilha personagens e um pano de fundo (a fronteira com o México). Se quisermos, mais um elo numa cadeia de eventos interligados que, depois de mostrar o que se esconde por trás da política, mergulha nos dilemas morais de quem vive nas sombras – quer seja sicário ou mercenário, americano ou mexicano, a linha divisória é ténue, não há diferença quando se está do lado de fora da legalidade e da moralidade.

Depois de uma entrada que deixa um gosto amargo pelo modo como parece conformar-se à “versão oficial” das “guerras contra o terrorismo”, Sheridan deixa-nos perceber que essa entrada não passa de uma “manobra de diversão” para levar ao tema principal. Guerra de Cartéis afina a mira, reduz do macro para o micro e torna-se um filme sobre os danos colaterais das políticas de “força bruta”, o seu impacto na vida de quem é afectado de todos os lados da questão. A filha do narcotraficante, peão num jogo cuja dimensão nunca sonhou; o adolescente da small town que quer fazer algo da sua vida, mas sem ter a noção daquilo em que se está meter; a mãe suburbana que dá boleia a coyotes desculpando-se com “arranja-me um emprego que pague mais e eu largo isto”. E, no centro do furacão, Benicio del Toro como o “activo” no terreno, o mercenário constantemente atravessando a fronteira física entre dois mundos e as fronteiras morais na sua mente, encarnado pelo actor com peculiar combinação de lassidão e alerta.

Este segundo Sicario é menos sisudo do que o predecessor; falta-lhe a dimensão metódica, solene do canadiano Villeneuve. Isso acaba por ser menos problemático do que parecia: em tempo de estreia nos EUA, o italiano Stefano Sollima, com experiência em histórias mafiosas (em Suburra e na versão televisiva de Gomorra), limita-se a ilustrar com desenvoltura e eficácia o argumento. Este dá um par de escorregões que noutras mãos seriam fatais, compensados pela maneira como as peças vão encaixando e os pormenores se vão acumulando, como uma tragédia em câmara lenta. Guerra de Cartéis não tem ilusões sobre o pântano moral da guerra contra as drogas, nem sobre a possibilidade de uma solução. Não há conforto nenhum neste filme.

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