Uma dupla decisiva para um jogo decisivo?
Fernando Santos fecha-se em copas acerca do plano de voo para o embate com o Irão. A prioridade é passar aos oitavos-de-final e os números do binómio Ronaldo-André Silva impressionam.
As duas primeiras exibições não convenceram, mas Portugal sobreviveu a Espanha e a Marrocos. Com quatro pontos e em posição privilegiada para garantir um dos dois primeiros lugares do Grupo B, a selecção nacional defronta hoje, a partir das 19h, em Saransk, o Irão de Carlos Queiroz, um jogo contra “a melhor equipa da Ásia” que Fernando Santos admite ser “decisivo”. Com João Moutinho recuperado de uma gripe, a principal dúvida está no ataque, onde o seleccionador nacional pode recuperar a fórmula de sucesso utilizada durante a fase de apuramento: André Silva ao lado de Cristiano Ronaldo.
Em equipa que ganha não se mexe? O conhecido conservadorismo de Fernando Santos aponta nesse sentido, mas apesar de as questões tácticas terem passado ao lado da antevisão do jogo com o Irão, feita pelo seleccionador português na sala de imprensa da Arena Mordovia, o terceiro encontro de Portugal no Mundial 2018 pode ditar um regresso ao passado. Contra Espanha e Marrocos, as duas primeiras partidas no Grupo B, Fernando Santos apostou em Gonçalo Guedes de início, mas com o madrugador golo português em Sochi e em Moscovo, o técnico activou o “plano B”: Guedes na esquerda; Bernardo Silva na direita; Cristiano Ronaldo sozinho no centro, com um médio a surgir nas suas costas — Bruno Fernandes teve essa missão contra os espanhóis; João Mário assumiu a função frente aos marroquinos. O resultado, em ambos os jogos, foi uma equipa portuguesa dominada e permissiva, levando Santos, após a partida contra os marroquinos, a lamentar que algo “difícil de perceber” acontecera no Estádio Luzhniki. “Vou ter de falar com os jogadores”, admitiu.
E essa conversa pode ditar o regresso a uma fórmula que tem sido de sucesso. Num jogo em que é previsível que o Irão entregue o domínio a Portugal — o capitão Masoud Shojaei disse que os iranianos terão de “ter muita paciência” e podem passar “com um golo no último minuto” —, a estreia a titular de André Silva no ataque é um cenário plausível. O jogador do AC Milan garante mais presença na área e os números mostram o sucesso da sua parceria com Cristiano Ronaldo.
A estreia pela principal selecção portuguesa de André Silva aconteceu a 1 de Setembro de 2016, no primeiro jogo após a vitória de Portugal no Euro 2016. Cristiano Ronaldo estava lesionado e, curiosamente, André Silva vestiu a camisola número 7. Cerca de um mês depois, contra Andorra, Fernando Santos apostou pela primeira vez na sociedade Silva/Ronaldo. O “7” português terminou com um hat-trick, o “9” estreou-se a marcar pela selecção. Portugal goleou por 6-0. No jogo seguinte, nas Ilhas Feroé, a mesma goleada, mas os números inverteram-se: três golos para André Silva, um para Cristiano Ronaldo.
Seguiram-se mais 11 jogos com Portugal em 4x4x2 e a dupla do Real Madrid e do AC Milan no ataque. Houve adversários mais acessíveis (Letónia, Nova Zelândia e novamente Ilhas Feroé), outros que mostraram maior competência (Rússia, Suíça e Egipto). Apenas uma selecção conseguiu terminar o duelo com Portugal sem perder e sem sofrer golos da dupla: empate a zero com o Chile, há um ano, na Arena Kazan, nas meias-finais da Taça das Confederações. No total, André Silva e Cristiano Ronaldo foram titulares em simultâneo em 13 jogos. O balanço é esclarecedor: 12 vitórias e um empate para Portugal; 17 golos para Cristiano Ronaldo, 10 para André Silva (70% do total de golos nesses jogos).
Com ou sem André Silva no “onze” inicial, Fernando Santos preocupou-se na antevisão da partida em realçar os méritos do adversário: “Saem muito bem em contra-ataque. Quando têm bola, sabem jogar e demonstraram isso no jogo com a Espanha”, advertiu, deixando também uma palavra de apreço a Carlos Queiroz, “colega e amigo há 35 anos”.