Trump e uma criança em lágrimas. "Bem-vinda à America", diz a Time

Revista recortou a imagem de uma criança de dois anos, fotografada a chorar quando foi apanhada junto à fronteira com a mãe, e colocou-a diante de Trump. A capa tornou-se viral em poucas horas.

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A capa da Time DR

Donald Trump voltou a ser capa da revista Time, mas desta vez dificilmente deverá afixá-la num dos clubes de golfe de que é dono. É que o Presidente norte-americano surge de pé diante de uma criança de dois anos que chora suplicante, num fundo vermelho quebrado apenas pela frase “Bem-vinda à América”. Também outras publicações (como a New Yorker) dedicaram capas e cartoons ao tema das políticas de "tolerância zero" aplicadas por Trump quanto à imigração ilegal, que tem separado famílias na fronteira entre os Estados Unidos e o México.

A menina foi recortada de uma fotografia tirada junto à fronteira norte-americana pelo fotógrafo John Moore, da agência Getty. E a expressão de súplica da criança foi fixada quando a mãe foi obrigada pela polícia que patrulha as fronteiras a pousá-la no chão, enquanto era revistada e detida.

É uma capa que rapidamente se tornou viral. “Como fotojornalista responsável por registar estas separações na fronteira norte-americana com o México, e como pai de três crianças, foi difícil fazer esta fotografia”, declarou Moore, ao jornal britânico The Guardian.

Apesar de o pai da criança, Denis Valera, ter dito à Reuters que a menina não foi separada da mãe, durante o tempo em que estiveram detidas na cidade transfronteiriça de McAllen, no Texas, a imagem funciona como símbolo dos protestos que a política de “tolerância zero” adoptada por Donald Trump desencadeou por todo o mundo, à medida que foram sendo divulgadas as imagens e os sons das crianças que foram separadas dos pais em centros de detenção destinados aos imigrantes apanhados depois de terem cruzado ilegalmente a fronteira.

Trump costuma vangloriar-se do número de vezes em que foi capa da revista Time. Em 2017, reclamou-se, aliás, como recordista nessa matéria. Mas tal facto foi prontamente negado pelos responsáveis da revista que, em Junho, lhe pediram que retirasse as capas falsas que tinha por hábito afixar nas paredes dos clubes de golfe.

Desta vez, a capa foi mesmo publicada. E visa, segundo um dos responsáveis da revista, Karl Vick, questionar em que tipo de país se transformaram os EUA às mãos de um Presidente que, eme 18 meses de permanência na Casa Branca, apenas pronunciou as palavras direitos humanos dez vezes.

“Devíamos todos preocupar-nos”

A administração Trump tem enfrentado duras críticas quanto à forma como está a lidar com a imigração ilegal, com uma política de “tolerância zero” que resulta na separação de centenas de crianças dos pais, na fronteira. Na quarta-feira, Trump recuou na decisão de separar as famílias, permitindo que todos fiquem detidos no mesmo espaço por tempo indeterminado.

Outras publicações norte-americanas têm também ilustrado a crise que se vive na fronteira entre os Estados Unidos e o México, abordando sobretudo a separação das famílias. Num cartoon da New York Magazine, a Estátua da Liberdade surge a caminhar de mãos dadas com uma criança, lendo-se nas costas a mensagem “We should all care” (“Deveríamos todos preocupar-nos”). É  uma alusão implícita à mensagem que constava nas costas do casaco que a primeira dama norte-americana, Melania Trump, usou quando na quinta-feira se deslocou a um abrigo de acolhimento de crianças, no Texas. No casaco lia-se: “I really don’t care. Do u?” (“Não quero saber. E tu?”).

Também na capa da revista New Yorker, conhecida por imagens e mensagens provocadoras – algumas delas tiveram Trump como protagonista – vê-se um desenho em que crianças se escondem nas vestes da Estátua da Liberdade, que as protege.

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DR

Outros cartoons ilustram as condições em que as crianças ficam retidas nos centros de detenção, marcadas já pelo facto de terem sido afastadas dos pais.

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