Farinha, o livro proibido sobre narcotráfico, já pode voltar às livrarias espanholas

Investigação de Nacho Carretero foi alvo de providência cautelar requerida por um ex-autarca e a venda estava proibida desde Fevereiro. Tribunal levantou suspensão da obra que foi editada em Portugal em Junho.

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O livro Farinha, do jornalista espanhol Nacho Carretero, já pode voltar a ser vendido livremente em Espanha depois de uma providência cautelar ter levado à sua apreensão. Um ensaio sobre o narcotráfico na Galiza nas décadas de 1980 e 90, Farinha já ia na 10.ª edição quando foi proibida a venda na sequência de uma queixa de um antigo autarca por alegadas ofensas à honra. O El País, onde trabalha o autor da obra editada em Portugal em Junho, noticia nesta sexta-feira que um tribunal de Madrid revogou a suspensão que há cinco meses pendia sobre o livro.

O antigo alcaide da localidade galega de O’Grove, José Alfredo Bea Gondar, interpôs uma acção contra Carretero em Janeiro de 2016. Pedia uma indemnização de 500 mil euros por ofensas à honra por um dado em falta em Farinha: o autarca foi acusado de narcotráfico por envolvimento indirecto no transporte de cocaína mas o Supremo Tribunal espanhol revogou essa sentença por erros processuais, sem, como assinala o El País, negar os factos provados; o mesmo político foi depois condenado por lavagem de dinheiro.

O erro processual – um testemunho considerado inválido – não consta do livro e Bea Gondar pede por isso 500 mil euros de indemnização. Uma juíza deu provimento à queixa suspendendo, desde Fevereiro deste ano, a venda do livro e encerrando o site. O caso foi a julgamento na quinta-feira e nesta sexta foi levantada a providência cautelar (o site já tinha sido, entretanto, reposto online), por se considerar que “não foram ultrapassados os limites do direito à informação” e que as referências ao ex-autarca são reduzidas. “Ele não é uma personagem importante”, explicara já ao PÚBLICO Nacho Carretero.

O livro já vendeu mais de 40 mil exemplares e deu origem a uma série da Antena 3 espanhola, um canal privado que estreou Farinha por alturas da providência cautelar, e foi traduzido para português pelas edições Desassossego – a providência cautelar não afectou as edições internacionais de Fariña (título original). Com esta decisão, recorda o diário espanhol, podem agora avançar as edições galega e catalã, que estavam suspensas. A série, à semelhança de Casa de Papel, que também é uma produção da Antena 3, vai estar disponível em breve na plataforma Netflix. 

“Celebramos o regresso à normalidade, que se possa vender um livro jornalístico”, disse Carretero ao El País, dizendo-se “aliviado” pela resolução de uma situação “sem sentido, uma desproporção”. Ao PÚBLICO, há um par de semanas, tinha considerado “claro” que o interesse do autarca “é económico”, pelo valor da indemnização.

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