É alemã, mas foi em Portugal que encontrou a vontade de combater um dos maiores problemas do nosso tempo: o consumo excessivo de plástico descartável. Bianca Beyer criou a Associação Partícula Sustentável e o projecto Lisboa Limpa, que pretende introduzir uma rede de copos reutilizáveis nos bares, cafés e restaurantes da cidade que vendem bebidas em recipientes de plástico descartável.
A jovem estudou serviço social em Munique e, antes de vir para Portugal ao abrigo do programa Erasmus, passou por Barcelona onde trabalhou como educadora. Depois do intercâmbio, escolheu Lisboa para residir. Conheceu o namorado português na cidade espanhola e acabou por se mudar para Portugal para viverem juntos. “Acabamos por encontrar trabalho os dois. Se [isso] não acontecesse, provavelmente estaríamos na Alemanha”, confessa. “Estamos os dois felizes aqui.”
Enquanto trabalhava na Escola Alemã, em Lisboa, Bianca tropeçou por acaso no problema da sustentabilidade, quando lhe foi proposto realizar actividades com os alunos relacionadas com o ambiente. Agora, aos 33 anos, dedica-se inteiramente à Associação Partícula Sustentável e ao projecto Lisboa Limpa que criou.
Lisboa mais Limpa, um copo de cada vez
Inspirada no projecto alemão Freiburg Cup — uma alternativa ecológica às embalagens de café para levar na cidade de Freiburg —, Bianca decidiu pegar no mesmo conceito e adaptá-lo à realidade de Lisboa.
Quando se mudou para Portugal, a jovem alemã apercebeu-se de uma tendência preocupante: os bares e as cervejeiras serviam (e muitos ainda servem) bebidas em copos descartáveis, que depois se acumulam nos caixotes do lixo e no chão, um pouco por toda a cidade. Para tentar combater este problema, Bianca criou os copos Lisboa Limpa, recipientes que, apesar de também serem de plástico, não são descartáveis. O consumidor é convidado a pagar um depósito de um euro e a reutilizar o copo quantas vezes quiser. Pode depois devolvê-lo num dos pontos aderentes ao Lisboa Limpa e receber o dinheiro de volta — à semelhança do que já acontece em alguns festivais de Verão.
“Isto é um pequeno esforço no meio do nosso dia-a-dia, levar um copo de um sítio para o outro não dá trabalho nenhum e temos de começar a pensar nestas pequenas coisas, no reutilizar e não no consumir repetidamente”, explica Bianca.
Neste momento são já nove os estabelecimentos que aderiram à iniciativa e onde podem ser adquiridos, e posteriormente devolvidos, os copos. Mas o objectivo é alargar a rede de influência do Lisboa Limpa. Na lista de parceiros constam nomes como Crew Hassan, Quiosque O Melhor Bolo de Chocolate do Mundo, Renovar A Mouraria, Restaurante 4 Estações, Café Dias, Desterro, Café Tati, Hamburgueria da Parada, e Uma Pizza Em Companhia.
“Está na hora de mudar”
Bianca acredita que é preciso prevenir em vez de remediar, mas confessa não ser fácil arranjar estabelecimentos dispostos a substituir os copos descartáveis pelos do Lisboa Limpa. “Para o bar significa gastar água a lavar os copos, explicar o conceito aos clientes e o sistema de depósito.” Para a activista, as maiores transformações passam pela mudança das práticas das grandes marcas, que oferecem copos descartáveis. “Se trabalharmos todos juntos em todos os bares, sem logótipos de grandes marcas, podemos mesmo combater o desperdício de plástico.”
O Lisboa Limpa funciona apenas com a coordenação de Bianca e a ajuda de amigos e voluntários que acreditam na mesma causa. Além do projecto dos copos reutilizáveis, a organização realiza também campanhas de esclarecimento e sensibilização para jovens e crianças em escolas ou casas da juventude e quer mostrar, através de imagens e vídeos, que a quantidade de plástico nos mares é “um problema dos nossos dias”.
Para já, o Lisboa Limpa ainda não é auto-sustentável, mas Bianca quer fazer com que cada vez mais bares e restaurantes adiram aos copos reutilizáveis, nomeadamente através de parcerias com a Câmara Municipal, que também já se mostrou interessada em praticar medidas para a redução do consumo de plástico na cidade. A ideia pode ser adaptada a festas ou actividades escolares, sendo que os copos podem até voltar a integrar a rede Lisboa Limpa. “É um ciclo”, remata Bianca.
Texto editado por Ana Maria Henriques