As 2300 crianças que já foram separadas não têm data para se reunirem com a família
O decreto assinado nesta quarta-feira não deverá ter efeitos retroactivos. A segurança na fronteira será reforçada e serão construídas instalações para colocar as novas famílias detidas.
Donald Trump assinou um decreto a determinar que crianças e pais fiquem detidos juntos por tempo indeterminado, numa tentativa de acalmar as críticas em relação à política de tolerância zero, que separou famílias na fronteira do país. No entanto, o Departamento de Saúde e Serviços Humanos alerta que as mais de 2300 crianças que já foram separadas das suas famílias não serão imediatamente devolvidas aos pais.
Kenneth Wolfe, porta-voz da Administração para Crianças e Famílias, do Departamento de Saúde e Serviços Humanos, esclarece que “não haverá uma aplicação retroactiva [do decreto presidencial] em relação aos casos já registados”, cita o New York Times.
As imagens de crianças menores a ser retiradas aos pais e levadas para centros de detenção comparados a gaiolas geraram uma onda de críticas. Do Papa, à ONU, passando pela antiga primeira-dama Laura Bush e até a actual primeira-dama Melania Trump, a indignação com a separação de famílias correu o mundo.
Depois de atirar as culpas para os democratas, que "não se preocupam com o crime" e "querem que os imigrantes indocumentados entrem e infestem o nosso país", o Presidente norte-americano procurou apaziguar as críticas, ordenando que as famílias passem a ser detidas em “instalações disponíveis para receber e cuidar das famílias estrangeiras (alien families)”, ou que estas “sejam construídas se necessário e de acordo com a lei”, enquanto esperam por julgamento.
No entanto, o decreto de Trump não esclarece o que lhes acontecerá até que as tais instalações sejam assinaladas ou construídas e não determina se as crianças continuarão a ser separadas até que as instalações sejam atribuídas. Confrontada com estas questões durante a conferência de imprensa que se seguiu à assinatura do decreto, a Casa Branca não soube responder.
O documento de quatro páginas ressalva que a Administração vai não só continuar a acusar criminalmente todos os que atravessem a fronteira de forma ilegal como também vai reforçar o controlo da segurança na fronteira.
A decisão de Trump é conhecida no dia em que a Hungria aprovou um pacote legislativo que torna crime prestar auxílio a quem entre no país sem documentos legais — mesmo que seja para pedir asilo.
Também nesta quarta-feira, Dia Mundial dos Refugiados, soube-se que os países da OCDE receberam menos refugiados pela primeira vez em seis anos. A descida acontece apesar de a população global de refugiados ter aumentado. Enquanto em 2013 existiam 11,1 milhões de pessoas em busca de asilo, no último ano o número saltou para 18,5 milhões de refugiados.
A entrada de migrantes tem sido um dos principais focos de tensão política mundial. O crescimento de movimentos populistas e a sua respectiva representação em órgãos de poder (veja-se o caso da Alemanha com o partido da extrema-direita Alternativa para a Alemanha a tornar-se o terceiro partido mais representado no Bundestag) tem também constituído uma acentuada preocupação.