Quatro anos depois, lesados do BES recebem o primeiro pagamento

Perto de 2000 lesados do papel comercial já estão a recuperar primeira parte das poupanças aplicadas.

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Depois de muitas manifestações de lesados, chega a primeira recuperação de poupanças. Diogo Baptista

Os lesados do papel comercial vendido pelo BES receberam esta quinta-feira a primeira parcela da indemnização que os compensa parcialmente pelas perdas sofridas com a queda do banco, disse à Lusa o presidente da associação de lesados.

No primeiro pagamento, foram distribuídos 120 milhões de euros pelos cerca de dois mil lesados, correspondendo a 30% do montante a que têm direito. Do total de aproximadamente 430 milhões de euros investidos, os lesados receberão pelo menos 280 milhões.

O pagamento, feito nas contas dos lesados do Novo Banco, que tem apoiado a implementação da solução acordada, tinha sido anunciado na semana passada pela Patris, a sociedade que está a gerir o fundo de recuperação de créditos e que, com o apoio do Estado, vai garantir aos lesados a recuperação de pelo menos 75% das aplicações até 500 mil euros (com limite de 250 mil euros) e de 50% para valores acima de 500 mil euros.

O pagamento foi feito à quase totalidade dos lesados. Tal como o PÚBLICO noticiou na passada sexta-feira, apenas cerca de 3% dos 99% dos investidores particulares que manifestaram vontade de aderir ao fundo foram excluídos. Para aderirem, os lesados tinham de cumprir vários pressupostos, nomeadamente o de ter reclamado créditos junto das sociedades insolventes do Grupo Espírito Santo, como  a ESI e a Rio Forte, e do BES.

Há uma semana, Ricardo Ângelo, presidente da Associação de Indignados e Enganados do Papel Comercial (AIEPC), que desde finais de 2014 liderou os protestos dos lesados e participou activamente na negociação da solução que acabou por chegar ao terreno, não escondia a satisfação com o comunicado da Patris. “Finalmente o processo começa a chegar ao fim, é um alívio muito grande”, disse ao PÚBLICO Ricardo Ângelo, com visível contentamento pela notícia que acabava de receber.

E num momento de grande satisfação Ricardo Ângelo deixou uma promessa: “No próximo ano vou a Fátima a pé, acompanhado por um grupo de lesados”, explicando que com essa viagem, já feita no ano passado, pretende agradecer a Nossa Senhora de Fátima o empenho do Governo, especialmente do primeiro-ministro, na solução encontrada.

O pagamento a realizar nos próximos dias será feito com boa parte dos 140 milhões de euros desbloqueados pelo Governo, a título de empréstimo.

A solução foi negociada entre o Governo, os dois supervisores envolvidos - o Banco de Portugal e a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários -, o BES mau (que está em liquidação) e a Associação de Indignados e Enganados do Papel Comercial (AIEPC). O Novo Banco ficou fora do grupo de trabalho mas tem dado um contributo importante na operacionalização do mecanismo.

De acordo com o plano que foi estabelecido, o fundo de recuperação de créditos, o primeiro do género a ser criado, pagará as restantes duas tranches em 2019 e 2020. O fundo assume a partir de agora a responsabilidade de recuperação dos créditos e tem a expectativa de recuperar mais dinheiro do que os cerca de 286 milhões de euros que está previsto pagar aos lesados. O que for recuperado a mais será distribuído pelos lesados.

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