Morreu o orangotango-de-samatra mais velho do mundo
A organgotango fémea já era bisavó e desempenhou um papel essencial nos esforços de reprodução desta espécie de primatas, que enfrenta um enorme risco de extinção. Deixa 54 descendentes em vários continentes.
O orangotango-de-samatra (Pongo abelii) mais velho do mundo, uma fêmea chamada Puan, morreu nesta segunda-feira aos 62 anos no Zoológico de Perth, na Austrália.
Conhecida como a "grande velhinha" ou "a matriarca" do Zoológico de Perth (devido essencialmente ao papel que desempenhou nos esforços de conservação da espécie) e reconhecida oficialmente, em 2016, pelo livro de recordes do Guinness como o orangotango-de-samatra mais velho do mundo, foi submetida a eutanásia devido a um agravamento do seu estado de saúde, explica o jardim zoológico em comunicado.
"Com o passar dos anos, os cílios de Puan tornaram-se cinzentos, o seu movimento desacelerou e a sua mente começou a regredir. Mas ela continuou a ser a matriarca, a senhora quieta e digna que sempre foi", explicou Martina Hart, tratadora que a acompanhou ao longo dos últimos18 anos, num obituário publicado no jornal local The West Australian.
Segundo a especialista, Puan era mais do que os números invulgares (os anos de vida e quantidade de descendentes) que ficam associados à sua história. Aos tratadores, mostrou que os instintos selvagens nunca desaparecem, mesmo em cativeiro. Aos orangotangos mais jovens, nascidos no zoo e libertados mais tarde nas florestas (como parte de um programa de reintrodução das espécies no seu habitat), ensinou a construir abrigos e a sobreviver na natureza. E, apesar do seu estado de saúde se ter vindo a deteriorar ao longo do tempo, não deixou de mostrar traços de uma personalidade singular. "Viveu a sua vida nos seus termos", exigia respeito e, "até ao fim, manteve sempre a sua independência", não deixando de bater o pé (literalmente) quando achava que estavam a demorar demasiado tempo a chegar com a sua comida, lembra Hart.
Aos 62 anos, excedeu em muito a expectativa média de vida destes primatas. Na natureza, raramente ultrapassam os 50 anos de idade. Estima-se que Puan terá nascido em 1956, numa floresta na ilha de Samatra (Indonésia) – de onde é, tal como o nome indica, originária esta espécie – mas poderia até ser mais velha, tendo em conta que a sua idade foi apenas calculada. Chegou ao Zoológico de Perth a 31 de Dezembro de 1968, depois de ter sido oferecida pelo sultão de Johor, Malásia, em troca de alguns animais nativos da Austrália, o que era comum naquela época.
Puan desempenhou um papel fundamental nos programas de reprodução da espécie daquele jardim zoológico, tendo dado à luz 11 crias (a maioria destes orangotangos selvagens reproduz-se apenas 4 vezes na vida). Deixou 54 descendentes e a sua linhagem está presente em jardins zoológicos na Austrália, Estados Unidos e Europa, enquanto alguns dos seus descendentes foram reintroduzidos nas florestas de Samatra. "Além de ser o membro mais antigo da nossa colónia, ela também foi o membro fundador do nosso programa de reprodução de renome mundial e deixa um legado incrível. É responsável por perto de 10% da população zoológica global", disse Holly Thompson, a supervisora de primatas do Zoológico de Perth, citada pelo diário britânico Guardian. Naquele jardim zoológico da Austrália Ocidental deixou duas filhas, quatro netos e um bisneto.
De acordo com o World Wildlife Fund, o orangotango-de-samatra é uma espécie em grande risco de extinção, sendo que o seu efectivo populacional conta com cerca de 14 mil indivíduos. A destruição de habitats, causada pelos incêndios e explorações de óleo de palma naquela região, assim como a caça furtiva e o comércio ilegal continuam a ser algumas das maiores ameaças à sobrevivência desta e de outras espécies de primatas como os orangotangos-de-bornéu (Pongo pygmaeus) ou os recém-descobertos orangotangos-de-tapanuli (Pongo tapanuliensis). Este é o segundo orangotango-de-samatra a morrer, nos últimos seis meses, no Zoológico de Perth. Em 2017, morreu Hsing Hsing, o mais antigo exemplar macho daquela colónia, com 42 anos.
Texto editado por Pedro Guerreiro