Novas taxas agravam tensão comercial entre EUA e China
Washington anuncia taxa adicional de 10% sobre mais produtos chineses. Pequim pede "regresso à racionalidade".
O cenário de guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo, China e Estados Unidos, parece cada vez mais inevitável. O Presidente dos EUA, Donald Trump, ameaça agora cobrar mais direitos aduaneiros, com uma taxa adicional de 10% sobre um leque ainda mais vasto de produtos chineses, num valor total de mais de 200 mil milhões de dólares por ano (cerca de 170 mil milhões de euros). Pequim reage com dureza prometendo tomar “medidas quantitativas e qualitativas” contra o que qualifica como “uma pressão extrema" e "chantagem”. Trump promete agravar ainda mais a cobrança de direitos aduaneiros se a China retaliar, aplicando ainda mais taxas para cobrar 200 mil milhões de dólares em cima dos 200 mil milhões que pediu na segunda-feira à noite para serem identificados.
Num comunicado emitido esta terça-feira, Trump insiste em definir a atitude da China como “inaceitável”, defendendo a aplicação de medidas para que a China “abra o mercado aos bens dos Estados Unidos e aceite uma relação comercial mais equilibrada”. O Presidente Trump ressalva que tem uma boa relação com o Presidente chinês, Xi Jinping, mas argumenta que não pode permitir que outros países se aproveitem dos EUA.
Esta escalada de tensões já está a ter reflexos no mercado de acções: na China, a bolsa de Xangai caiu a pique, no valor mais baixo desde Junho de 2016; também as outras bolsas asiáticas estão em queda, registando os valores mais baixos dos últimos seis meses, avança a Bloomberg. O porta-voz do Governo chinês, Geng Shuang, pediu aos Estados Unidos na manhã desta terça-feira um "regresso à racionalidade", considerando que estas medidas prejudicam toda a gente: os Estados Unidos, a China, e o mundo.
A taxa de 10% anunciada pelo Governo norte-americano soma-se à taxa anteriormente anunciada de 25%, aplicada sobretudo em bens industriais e agrícolas; agora, esta taxa é alargada a outros produtos, como brinquedos, ferramentas ou t-shirts.
Foi na semana passada que a administração Trump deu a conhecer a aplicação de uma primeira taxa de 25% para arrecadar 50 mil milhões de dólares (43 mil milhões de euros). Um comunicado divulgado pela Casa Branca acusava a China de “roubo de propriedade intelectual”, justificando a imposição das taxas como uma forma de proteger a economia dos EUA, com base na ideia de que a China tem beneficiado de um desequilíbrio nas trocas comerciais – acusações que o porta-voz do Governo chinês diz serem “infundadas”.
Pequim sempre garantiu que não iria assistir de forma impávida e que responderá sempre com taxas próprias sobre produtos norte-americanos. E respondeu ao anúncio da semana passada com a promessa de aplicação de uma taxa de 25% em produtos dos EUA, para arrecadar o mesmo montante de 50 mil milhões de dólares, incluindo produtos agrícolas e da indústria — foi em resposta a esta taxa chinesa que os Estados Unidos decidiram avançar com uma nova taxa.
“Os Estados Unidos deram início a uma guerra comercial e infringiram as regulações do mercado”, lê-se numa nota do Ministério do Comércio chinês. Por outro lado, a administração Trump disse na segunda-feira que, com a retaliação, a China estava a “ameaçar as empresas, trabalhadores e agricultores norte-americanos que não fizeram nada de mal”.