Acelerador de partículas do CERN irá ter mais luminosidade para iluminar os mistérios da física
Melhorias no grande acelerador de partículas irão permitir a produção de, pelo menos, 15 milhões de bosões de Higgs por ano.
Esta sexta-feira, o Laboratório Europeu de Física de Partículas (CERN) entrou numa nova fase, que marca o início dos trabalhos de engenharia civil, do Grande Colisor de Hadrões (LHC, na sigla em inglês), seis anos depois deste grande acelerador de partículas resolver um longo enigma ao confirmar a existência do esquivo bosão de Higgs.
Esta renovação irá aumentar a “luminosidade” das experiências de colisão de protões do LHC – um anel de 27 quilómetros sob a fronteira da Suíça e de França –, aumentando dez vezes o número de colisões de partículas e produzindo um retrato claro do mundo subatómico, segundo o CERN. “Isto permitirá abordar novas questões, perguntas pendentes na física fundamental e irá dar uma maior oportunidade para encontrar respostas”, disse à agência Reuters Fabiola Gianotti, directora-geral do CERN, na cerimónia de inauguração desta sexta-feira, em Genebra.
A melhoria ao LHC, que durará uma década e envolve um orçamento em materiais de 821 milhões de euros, irá permitir que o acelerador produza mais dados sobre a colisão de partículas num ano do que em toda a sua vida (começou a funcionar em 2010), referem os especialistas. Esta melhoria centra-se nos feixes de protões que são esmagados juntos – aumentando a luminosidade –, o que significa que haverá mais colisões e mais oportunidades de encontrar algo incomum.
Só no último ano, o LHC produziu cerca de três milhões de bosões de Higgs, a partícula tão procurada que deu a resposta à seguinte questão: onde é que matéria vai buscar a massa? Depois desta melhoria, o CERN refere que o LHC irá produzir, pelo menos, 15 milhões de bosões de Higgs por ano, permitindo que os físicos conheçam melhor uma das muitas descobertas recentes. Também poderão procurar outras partículas, assim como respostas sobre a antimatéria e o início do Universo.
Fabiola Gianotti disse ainda que tem a expectativa que esta actualização poderá dar respostas sobre a matéria escura, que nunca foi vista mas que se sabe que existe devido aos efeitos na matéria visível à volta dela. “Para mim, pessoalmente, resolver o mistério da matéria escura do Universo será algo muito importante”, acrescentou. “Claro que seria fantástico produzir a partícula de matéria escura na colisão dos feixes do LHC.”
O valor das descobertas não pode ser antecipado, mas espera-se que dê um estímulo à ciência e à tecnologia no futuro e que potencie a velocidade de processos de fabrico ou melhore o poder da computação. Mesmo as tecnologias necessárias para continuar melhorar o LHC, até 2026, irão abrir novos caminhos, isto porque o objectivo de colidir feixes de protões juntos irá requerer novos ímanes supercondutores e electrónicos que nunca foram desenvolvidos antes e que terão benefícios potenciais para a sociedade, assinalou Fabiola Gianotti.
Algo que também ainda não se sabe é se esta remodelação levará mais físicos a receberem o Prémio Nobel. Afinal, em 2013, Peter Higgs e Francois Englert venceram um Nobel da Física quando o bosão de Higgs foi detectado. “Vamos ver”, apontou Fabiola Gianotti. “Estamos nas mãos da natureza.”