Greves de comboios vão afectar Santo António e S. João, de sul a norte

Depois de marcarem uma greve para 12 e 13 de Junho, véspera e dia de Santo António, sindicatos ameaçam fazer o mesmo com no dia de S. João: novo pré-aviso tem data de 23 e 24 de Junho.

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paulo pimenta

O Sindicato Ferroviário da Revisão e Comercial Itinerante (SFRCI) lamentou as definições dos serviços mínimos da greve desta terça e quarta-feira da CP e da Medway e informou existir já um pré-aviso para paralisar também a 23 e 24 de Junho.

Na próxima terça e quarta-feira, 12 e 13 de Junho, a CP prevê supressões e atrasos na circulação de comboios em todos os serviços, à excepção dos urbanos do Porto, devido à greve convocada por várias organizações sindicais.

Esta segunda-feira, recordando que na base dos protestos está a “questão do agente único”, Luís Bravo, presidente do SFRCI, precisou que a paralisação da Medway (antiga CP Carga) decorre entre as 00h00 e as 24h00 de segunda-feira e a da CP entre as 12h00 de terça e as 12h00 de quarta-feira, para os trabalhadores com local de trabalho entre Coimbra e Vila Real de Santo António.

Os mesmos modelos serão utilizados para a greve de 23 e 24, mas para os trabalhadores a norte de Coimbra, com o dirigente sindical a explicar que esta diferenciação de horários da greve se deve ao facto de não haver transporte de mercadorias aos feriados. O dia 13 é feriado em Lisboa e 24 é feriado no Porto.

Luís Bravo referiu que, com o modelo para os próximos dias, “grande parte” das viagens de comboios de longo curso ficava garantida, com revisores sediados no Porto, mas “em complemento foi ainda atribuído mais 25% de comboios abrangidos, o que dá quase 75% de comboios de longo curso”.

A previsão do sindicalista é adesão total dos trabalhadores que não cumpram os serviços mínimos e que as “bilheteiras vão estar completamente fechadas”. “No fundo vai haver comboios, mas não vai haver cobrança”, resumiu à Lusa.

“Em termos de circulação vai haver bastante, uma vez que o tribunal arbitral decretou serviços máximos na sua decisão, que é incompreensível e que faz lembrar os tempos anteriores ao 25 de Abril [de 1974], em que não se podia fazer greve, porque, como foram distribuídos os serviços mínimos, equivale praticamente a que os trabalhadores sejam impedidos de fazer greve”, argumentou.

A arbitragem obrigatória do Conselho Económico e Social decretou na sexta-feira que “serão realizados 25% do total dos comboios habitualmente programados para os períodos de greve, tomando em consideração que no dia 13 de Junho nas linhas e Sintra, Azambuja e Cascais a programação corresponde a dia feriado”.

Cabe à CP escolher os comboios, devendo dar prioridade “às situações com maior impacto na mobilidade das pessoas, designadamente os comboios que habitualmente transportam o maior número de passageiros”. Contactada pela Lusa, a empresa referiu que divulgará esta tarde informações sobre a greve.

Já na Medway, os serviços mínimos abrangem o “transporte de ‘amoníaco’, ‘matérias perigosas’ ou susceptíveis de perecimento durante o período de greve”. A Lusa aguarda comentários da empresa.

Para explicar os motivos da greve, Luís Bravo lembrou que os trabalhadores têm uma acta do Governo de Dezembro a incluir dois agentes no regulamento.

“O Governo não cumpriu o acordo e o senhor secretário de Estado, se aquilo que subscreve não vale nada, acho que devia considerar pôr o seu lugar à disposição”, defendeu.

No passado dia 4, no âmbito de uma outra paralisação, o presidente da CP, Carlos Gomes Nogueira, garantiu que os comboios vão continuar a operar com dois agentes, tal como tem vindo a ser “regra” na empresa.

“Há 20 anos que a regulamentação permite a circulação de comboios em regime de agente único, sendo que, no caso da CP, nunca se prescindiu de dois agentes na tripulação. A tripulação composta por dois agentes é regra na CP [...], é o nosso compromisso, que foi, formalmente, apresentado junto da tutela e do Instituto da Mobilidade e dos Transportes [IMT]”, disse Carlos Gomes Nogueira.

Já hoje o ministro do Planeamento e das Infra-estruturas, Pedro Marques, lamentou “os impactos” de uma “greve repetida” na CP (Comboios de Portugal), mas apontou que o Governo não vai ceder às reivindicações dos trabalhadores.

“A greve é um direito completamente legítimo dos trabalhadores. Contudo, o que está aqui em causa é a alteração de um regulamento que o Governo não alterou e não está a pensar alterar”, disse Pedro Marques.