As freiras mexicanas estão a salvar o axolote da extinção — por acidente
Os cientistas consideram o anfíbio um “paradoxo de conservação” e estudam-no sobretudo devido à sua capacidade de regeneração. Há anos que um grupo de freiras os criava e cuidava para utilizar na confecção de um xarope para a tosse, mas agora estão empenhadas em salvá-los da extinção.
O axolote (Ambystoma mexicanum) é uma espécie de salamandra aquática pequena que está em perigo crítico de extinção, mas um grupo de freiras do município mexicano de Pátzcuaro está a ajudar a criar e a devolver alguns destes animais ao seu habitat natural naquela região. A história foi contada na reportagem da BBC “The Sisters of the Sacred Salamander” (As Irmãs da Salamandra Sagrada), transmitida na BBC Radio 4 na semana passada e partilhada no site da BBC a 7 de Junho.
“Sinto que eles precisam do nosso cuidado e protecção. E é precisamente isso que estamos a fazer”, diz à BBC a irmã Ofélia Morales Francisco. Ainda que o apoio das freiras represente um importante contributo para salvar a espécie da extinção, o objectivo inicial não tinha como propósito qualquer esforço de conservação ambiental: há anos que o grupo religioso utiliza estes animais na produção de um famoso xarope para a tosse, uma prática que passou “de geração em geração” — mas a forma como esse remédio é feito (e a maneira como os anfíbios entram na fórmula) não é revelada pelas freiras.
Estes animais aquáticos estão enraizados na cultura do México, havendo quem acredite que tenham poderes curativos. Vivem em lagos de água doce, fundo escuro e vegetação subaquática abundante. Apesar do seu estatuto de conservação, há colónias mantidas em laboratórios científicos com milhares de exemplares.
Com laboratórios dentro do mosteiro, as freiras tornaram-se mestres da criação de axolotes – e agora, em colaboração com o jardim zoológico britânico de Chester, têm um papel importante na devolução de alguns destes animais ao seu habitat natural. “É uma espécie endémica e se não tentarmos salvar a espécie, então perder-se-á na natureza”, resume Ofélia Francisco.
Um artigo publicado na revista científica Nature no final de 2017 mostrava que esta espécie está cada vez mais próxima da extinção. Em 1998, existiam 6000 axolotes por quilómetro quadrado na região mexicana de Xochimilco; dois anos depois, este número tinha baixado para 1000 espécimes por quilómetro quadrado. Em 2008, dez anos depois, os números eram ainda mais preocupantes: havia apenas 100 axolotes por quilómetro quadrado. Agora, sobretudo por causa da poluição, há menos de 35 destes animais por quilómetro quadrado.
“O axolote é um completo paradoxo de conservação”, diz o ecologista Richard Griffiths, citado no estudo da Nature. “É provavelmente o anfíbio mais espalhado pelo mundo, em laboratórios e lojas de animais, e ainda assim está quase extinto na natureza”. O que traz problemas: como existe uma baixa diversidade genética destes animais, são mais propensos a doenças.
Esta salamandra já tinha sido notícia em Janeiro na altura em que foi descodificado o seu genoma, que pode ser uma importante ferramenta no estudo da regeneração de tecidos, já que estes animais conseguem regenerar na perfeição os membros e órgãos que perdem, incluindo o cérebro e o coração, mas também os ossos, os músculos e os nervos, que voltam a crescer no sítio certo. Esta capacidade de regeneração é útil tendo em conta que os axolotes são agressivos entre si e podem morder e mutilar partes de outros indivíduos, como se lê na página do Jardim Zoológico de Lisboa.
O anfíbio, que em 2013 foi eleito o terceiro animal mais feio do mundo, é uma espécie de salamandra que não completa a metamorfose, ficando na fase de larva mesmo quando já é adulto. Esta espécie distingue-se das outras salamandras por ter três pares de brânquia externas plumosas nos dois lados da cabeça; ainda que a maior parte dos espécimes tenha pele escura, o albinismo é comum. Têm cerca de 30 centímetros de comprimento e pesam entre 125 a 180 gramas.
Também conhecido como peixe-andarilho, está em perigo crítico de extinção por causa da poluição, diminuição do seu habitat por ocupação humana, comércio ilegal e por ser utilizado na alimentação das populações locais, refere a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).