Migrantes e refugiados narram as suas histórias ao vivo e a cores

Na Biblioteca Viva em vez de livros os “leitores” encontrarão pessoas. Iniciativa insere-se na programação da Feira do Livro de Aveiro e, este domingo, junta “narradores” de várias nacionalidades e culturas.

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HELDER BERENGUER

Ahmad Kalthoum nasceu e cresceu na Síria, Adónia Karatza é de Atenas, capital da Grécia, e Mina Alrawi nasceu no Iraque mas foi criada na Jordânia. O que têm eles em comum? Estão, há vários anos, radicados em Aveiro e, juntamente com Ana Paula (Brasil), João Henriques (Portugal), Marlon Silva (Brasil), Hulya Yildirim (Turquia), Mario Monteiro (Venezuela) e Pedro Wadt (Brasil), este domingo, a partir das 15 horas, dão corpo e alma à Biblioteca Viva promovida pela associação Agora Aveiro. Inspirada no movimento internacional do “Human Library”, nesta biblioteca, ao invés de livros são apresentadas pessoas. Neste caso em concreto, os “leitores” serão convidados a ouvir histórias de migrantes e refugiados. Enquadrados no ambiente da Feira do Livro de Aveiro, que está a decorrer no Mercado Manuel Firmino, estes nove narradores dão a conhecer as suas histórias, na primeira pessoa.

A selecção dos “livros” a apresentar foi feita pelos elementos da própria Agora Aveiro – associação de jovens que trabalha na promoção da cidadania activa e participativa – e também pelo Centro Local de Apoio à Integração de Migrantes de Aveiro (serviço do Centro Social Paroquial da Vera Cruz). “Conhecíamos os seus percursos e sabíamos que a história pessoal de cada um merecia ser contada e partilhada”, refere Francisco Santos, da organização. “Acima de tudo, queremos que os aveirenses conheçam a realidade dos refugiados e migrantes que aqui habitam”, acrescenta. Porque, sem sombra de dúvida, eles têm muito para contar.

A jovem Adonia, de 27 anos, por exemplo, quando finalizou os estudos em Direito, na Grécia, exerceu advocacia e o seu  primeiro emprego foi a ajudar cidadãos endividados. Antes de se mudar para Portugal, Adonia trabalhou durante um ano com menores não acompanhados em campos de refugiados, em Atenas. Uma das “experiências mais marcantes e únicas do seu percurso”, anuncia a associação Agora Aveiro.

Já Ahmad Kalthoum tinha 19 anos quando uma bolsa de estudo o trouxe até Portugal - está a estudar Engenharia Civil na Universidade de Aveiro - e, embora tenha nascido e crescido em Damasco, capital da Síria, afirma sentir-se mais português do que sírio e sente-se apaixonado por Aveiro, o seu actual lar.

De latitudes bem diferentes é originária a história que Mario Monteiro tem para relatar. Esteve politicamente envolvido no seu país de origem, a Venezuela, e por causa disso foi sequestrado e baleado numa perna. Decidiu deixar a Venezuela, com a família, e está há um ano e meio em Aveiro. “Experiencia alguns choques culturais, mas, apesar disso, Mario tem a certeza que Aveiro lhe oferece segurança e um bom sítio para viver”, revela a associação aveirense. De dificuldades de adaptação poderá falar também a jovem turca Hulia, que experienciou o “preconceito de algumas pessoas em relação à cultura islâmica”.

E não obstante a vantagem da língua, os brasileiros Ana Paula, Marlon Silva e Pedro Wadt – os dois primeiros oriundos de Belém do Pará e o terceiro de Ribeirão Preto – terão, certamente, muitas vivências para contar. Assim como o português João Henriques, que andou por vários países a participar em programas de voluntariado, ou a jovem estudante iraquiana Mina Alrawi, que se mudou para Aveiro, com os pais, aos 13 anos - actualmente tem 20 anos e estuda na Universidade de Aveiro.

Estão, assim, garantidas várias histórias e relatos nesta Biblioteca Viva, acção que se insere num grupo de actividades mais alargado e a que a associação Agora Aveiro deu o nome de “Refresca a tua mente”. Uma delas também aconteceu no âmbito da Feira do Livro e consistiu numa acção de bookcrossing: num frigorífico de bebidas, foram colocadas dezenas de livros para troca – qualquer pessoa podia levar um livro desde que deixasse um em troca. Mais uma inovação da associação que já andou pelas ruas da cidade de Aveiro a pendurar cabides com roupa - etiquetados com a mensagem “Precisas? Então, leva” - ou a espalhar balões com cartões a dizer: “Tira um sorriso”. Do seu historial consta também essa aventura de terem colado sapatos ao pavimento, “para demonstrar que mandar pastilhas para o chão não é algo agradável”.

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