“O que é preciso é contratar pessoal, não é respeitar as metas de Bruxelas"
Chocado com a situação do hospital do litoral alentejano, que diz ser espelho dos problemas estruturais do SNS, o líder parlamentar comunista elevou o tom das críticas ao “Governo minoritário do PS”.
O PCP ficou chocado com o que viu e soube no hospital de Santiago do Cacém, centro da Unidade de Saúde Local do Litoral Alentejano: cerca de metade do quadro médico por preencher, sem um pediatra ao serviço, cerca de 70 enfermeiros e 40 assistentes operacionais em falta, laboratórios de análises clínicas em serviços mínimos e, por consequência, camas encerradas e doentes desviados diariamente para outros hospitais.
“Este hospital é um exemplo dos problemas acumulados do SNS que o Governo não tem conseguido nem tem feito a opção de dar resposta e que são os problemas estruturais do sector”, disse o líder parlamentar, João Oliveira, à saída da visita ao hospital que dá assistência a uma população residente de 97 mil pessoas e que aumenta substancialmente no Verão.
João Oliveira referia-se em particular à falta de profissionais de saúde, que cria “problemas de acumulação de trabalho, desgaste, absentismo e que resulta em excesso de presentismo, de profissionais que são obrigados a fazer um horário e meio ou dois horários de trabalho porque faltam colegas, e sem que tenha havido até agora soluções por parte do Governo, com a contratação de profissionais que são necessários”.
O que o deputado não disse é que o problema toma agora outras proporções devido à entrada em vigor, a 1 de Julho, da redução do horário de trabalho na saúde das 40 para as 35 horas semanais, o que vai aumentar as dificuldades estruturais existentes que já são agravadas todos os anos nos períodos de férias estivais.
Mas João Oliveira desdramatizou: “Não é preciso inventar soluções, elas estão bem à vista. O que é preciso é pôr a contratação de pessoal como prioridade, e não as metas do défice impostas por Bruxelas.”
O hospital do litoral alentejano foi um dos locais visitados neste primeiro dia das jornadas parlamentares do PCP naquela região, em que os deputados comunistas se desdobraram para conhecer as realidades e dificuldades das populações locais. O grupo do líder parlamentar escolheu pôr o dedo na ferida da saúde e, a seguir, das obras do IP8 (Sines – Vila Verde de Ficalho), iniciadas em 2009 e abortadas no início do programa de ajustamento, em 2011.
Na localidade do Roncão, onde deveria já existir o nó daquele itinerário com o IC33, de ligação a Sines, não existem senão queixas, terrenos expropriados, terraplanagens por onde passa o gado e esqueletos de betão abandonados daquilo que deveriam ser viadutos, pontes e passagens subterrâneas ou superiores daquela via litoral/fronteira que ficou pelo caminho. E o que ali se vê, dizem os moradores da zona, repete-se ao longo de mais de 80 quilómetros até Beja, num desperdício de milhões de euros já gastos e agora quase em ruínas.
“Viemos cá saber se estão muito satisfeitos com a obra que aí têm, se está tudo bem feito e bem acabado, se gostam dos escombros que aqui ficaram”, ironizou João Oliveira, quando se reuniu com os moradores do Roncão. “Estragaram tudo e não fizeram mais nada”, responderam, antes de relatar todos os incómodos que a situação provoca há já sete anos.