Anestesistas: um terço dos internos não fica no serviço público

Dos 145 especialistas formados nos últimos três anos, só 99 terão ficado nos quadros dos hospitais públicos. Um terço escolhe outra via.

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MARIA JOAO GALA

Entre 2014 e 2017, formaram-se 145 especialistas em Anestesiologia, dos quais apenas 99 (68,3%) terão ingressado nos quadros das instituições hospitalares do Serviço Nacional de Saúde (SNS). Ou seja, um terço “opta por não celebrar contrato com as instituições hospitalares do SNS”, refere o Censos Anestesiologia 2017. Para Miguel Guimarães, bastonário da Ordem dos Médicos, esta é uma das consequências da falta de condições de trabalho e da não abertura imediata de concursos para colocação dos profissionais no SNS.

Apesar do défice de 541 anestesistas nos hospitais públicos, o rácio destes especialistas por 100 mil habitantes no país melhorou em relação ao Censos de 2014 (13,9 por 100 mil habitantes). Em 2017 estava em 15,1 por 100 mil habitantes a nível nacional, se se somar os profissionais que trabalham no privado.

Mas quando se olha apenas para os hospitais públicos, este rácio desce para 12,4 por 100 mil habitantes. “Aumentámos o rácio de anestesistas, o que é importante, mas este não tem tradução directa no SNS porque desde 2014, pelo menos, um terço dos internos não ficou no SNS. Porquê? Porque encontram melhores condições de trabalho no privado, propostas aliciantes do estrangeiro, mas sobretudo porque o Ministério da Saúde insiste em não abrir concursos quando os médicos terminam a especialidade”, diz Miguel Guimarães.

Paulo Lemos, presidente do Colégio de Anestesiologia da ordem, lembra que já este ano, em Maio, “pouco mais de 50 novos especialistas terminaram a formação e o concurso para colocação ainda está por abrir”. “As indicações internacionais vão no caminho de que o rácio deve ser de 20 anestesistas por 100 mil habitantes”, prossegue. “Mas poucos países conseguem garantir este rácio”, o que faz com que o mercado internacional seja uma alternativa a quem não encontra as condições desejadas para trabalhar no país.

O bastonário reforça: “Quanto mais tempo esperam pelos concursos, mais médicos dão outro rumo à sua vida.” E acrescenta: “Temos um SNS que está frágil e está na altura de o Governo apostar um pouco mais na saúde. O Governo tem de criar condições para reter os profissionais e não tem de ser com mais dinheiro. Pode ser com mais dias de férias, um projecto. Se os incentivos criados resultaram tão bem — diz o Governo que todas as vagas foram ocupadas —, porque não implementar mais? Se isso não acontecer, vamos ter mais dificuldades.”

Segundo o Censos, em 2016 houve 615.127 intervenções cirúrgicas (mais 3,4% do que em 2013), realizaram-se 89.608 procedimentos com apoio de anestesia fora do bloco operatório (menos 19%), 282.944 consultas de anestesia, 112.183 consultas de dor crónica e 51.380 analgesias de parto (mais 14,3%).

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