Anthony Braxton celebra o 73.º aniversário em concerto no Porto que será eternizado num disco

O multi-instrumentista norte-americano, nome incontornável do free jazz, volta a Portugal para um concerto único no ambiente intimista do ciclo de solos Solilóquios, que desde Fevereiro do ano passado já recebeu mais de 30 músicos nacionais e internacionais do circuito da música improvisada.

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Anthony Braxton DR

É um dos nomes incontornáveis do free jazz e dono de uma discografia imensa, cujo primeiro registo remonta ao final da década de 1960. O multi-instrumentista Anthony Braxton, que elege o saxofone como instrumento pilar para as suas composições, já por várias vezes tocou em Portugal. Esta segunda-feira, regressa ao Porto para um concerto único em território nacional, integrado no ciclo de solos de improviso Solilóquios.

Não é um concerto qualquer. Foi precisamente há 73 anos que nasceu em Chicago, Illinois. E vai celebrar esta data no Porto, onde tocou pela última vez em 2015, na Casa da Música, no dia que assinala a Revolução dos Cravos, com o quarteto Diamond Curtain Wall, que divide com Mary Halvorson (guitarra), Taylor Ho Bynum (corneta e trombone) e Ingrid Laubrock (saxofone). Desta vez, regressará aos Estados Unidos com o registo áudio da actuação. Do concerto de hoje sairá mais um álbum para juntar às quase duas centenas de discos editados.

Na década de 1970, dizia o New Yorker que Braxton seria “o novo messias” do jazz ou o “novo Charlie Parker, John Coltrane ou Ornette Coleman”. No livro Novos Horizontes no Jazz, da Fundação Calouste Gulbenkian, diz-se que “pode bem ser a figura mais criativa e uma das mais controversas na música americana a emergir após a morte de John Coltrane, em 1967”. São os nomes referidos algumas das influências que o ajudaram a seguir o caminho da desconstrução dos cânones do jazz. O norte-americano também foi beber ao legado de Karlheinz Stockhausen, Charlie Mingus, Iannis Xenakis, Sun Ra, Hildegard von Bingen ou John Cage.

Já sem nada a provar, de há largas décadas para cá serviu ele de inspiração para outros músicos e abriu portas a compositores, como por exemplo John Zorn, Steve Lehman, Tyshawn Sorey ou Mary Halvorson.

Membro da AACM - Association for the Advancement of Creative Musicians quase desde o início da sua fundação em 1965, já tocou com quase todos os músicos vanguardistas emblemáticos da sua geração e das mais recentes. Na década de 1970 fez parte do grupo Circle, que dividia com Chick Corea, Barry Altschul e Dave Holland. Com este último gravou mais tarde, na década de 1980, o álbum Conference of the Birds.

Para o concerto do Porto, com hora marcada para as 21h30, traz uma convidada. Vem com a harpista norte-americana Jacqueline Kerrod. Excepcionalmente, há uma actuação dos Solilóquios que não será um solo. 

Improvisos sobre o Porto

A actuação de Braxton soma-se a cerca de outras trinta realizadas desde Fevereiro de 2017 no terceiro andar do número 100 de um prédio da Rua das Carmelitas. Virada para a torre dos Clérigos há uma divisão que há pouco mais de um ano passou a ser a sala de estar de um público que procura o conforto de um concerto mais intimista, reservado para menos de oitenta pessoas.

É no Sobre Porto, no coração da Baixa, pouco mais abaixo da Lello e virada para a torre desenhada por Nasoni, que decorrem os Solilóquios, pelo menos uma vez por mês. Em Março do ano passado, poucos dias antes do solo de Peter Evans, falámos com o mentor do ciclo, Luís Baptista, naquele espaço. Dizia-nos que tinha uma agenda programada pelo menos até ao final do ano. A de 2018 está igualmente quase preenchida até Dezembro.

Além de Peter Evans, por lá passaram nomes como Fátima Miranda, João Barradas, Gary Lucas, que compôs a música Grace de Jeff Buckley, Hamid Drake, Uchihashi Kazuhisa, Arild Andersen ou Stephan Micus.   

No próximo mês de Julho passa por lá o indiano Ustad Kamal Sabri Khan, filho do compositor clássico Ustad Sabri Khan, que tocou com Ravi Shankar. Até ao final do ano, dos solos já agendados, Luís Baptista destaca a vinda da flautista Nicole Mitchell, antiga presidente da AACM, a 29 de Outubro, e do pianista Matthew Shipp, que descreve como “um dos grandes pianistas das últimas décadas”, que por lá passa em Novembro, ainda sem dia definido.   

Este ciclo tem ganho terreno no nicho em que se insere e tem contribuído para colmatar uma lacuna a nível de oferta no espectro da música improvisada que existe no Porto, ocupada quase exclusivamente pelo trabalho desenvolvido pela associação Sonoscopia, cujo trabalho incide em vários campos da música experimental e vai muito mais além da agenda de concertos de que dispõe.

No segundo ano da actividade, os Solilóquios conseguiram garantir o objectivo: “Continuar com uma agenda activa para um público que nalguns casos já se tornou residente, mas que em todos os concertos também se renova”.

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