Rio “não acrescentou nada de relevante” ao centro-direita

Líder da Juventude Popular (JP) não exclui futura candidatura à liderança do CDS-PP e tem como objectivo entrar nas listas para o Parlamento nas próximas legislativas: “Não é nenhum favor que pedimos ao CDS”

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Francisco Rodrigues dos Santos foi reeleito líder da JP há uma semana Nuno Ferreira Santos

Francisco Rodrigues dos Santos, de 29 anos, advogado, foi reeleito para um segundo mandato à frente da “jota” do CDS, meses depois de ter sido distinguido pela Forbes como um jovem promissor na categoria Direito & Política.

Concorda com a ideia de que o congresso do PS foi a Disneylândia?
[risos] Creio que o congresso acabou por desenhar um país que, embora corresponda ao imaginário do PS, acaba por não ter uma adesão directa na realidade. Eles querem aplicar uma receita e um modelo que, a nosso ver, estão absolutamente fracassados. Houve um delírio no congresso. Chegou ao ponto de [António Costa] dizer que o PS é aquele que melhor governa as finanças públicas. Parece que nos esquecemos das três bancarrotas dos governos socialistas com todas as suspeitas agora adensadas de corrupção, bolha de interesses e de colonização do aparelho empresarial do Estado.

A liderança de Rio fez agora 100 dias. O que é que ele trouxe ao centro-direita? 
Ao centro-direita acho que não acrescentou nada de relevante, dado que algumas das posições assumidas pelo PSD foram muito mais simpáticas à esquerda do que propriamente à direita. Os entendimentos que conseguiu estabelecer com o PS, fitando os seus actuais compagnons de route, BE e PCP. Ainda agora nesta questão da eutanásia, pela voz do seu líder, mas também da líder da JSD, ficaram alinhadas pelo diapasão das bancadas à esquerda, com excepção do PCP. Falou de um banho de ética, mas, infelizmente e alegadamente, viu-se rodeado dos seus colaboradores mais próximos de enormes suspeitas relacionadas com crimes que colidem e violam a ética e a moral. Depois criou um governo-sombra. Para quem quer ser uma lufada de ar fresco e revigorar o sistema político tem mais de sombra do que Governo, uma vez que procura trazer para a contemporaneidade protagonistas do passado.

Ele não lidou bem com a questão da eutanásia?
De maneira nenhuma. De resto, tivemos um grupo parlamentar que votou ao arrepio do líder. Não tenho dúvidas nenhumas que o eleitorado de centro-direita aspirava a que os partidos que fazem a sua representação política votassem contra a eutanásia. Depois tivemos o bizarro de a JSD ter estado ao lado da JS.

Sente-se mais próximo de Rio ou de Costa?
Eu sinto-me mais próximo de Assunção Cristas. Quero que o CDS seja um partido autónomo de Governo e que acabe com o bipartidarismo. Se há coisa que a juventude pode fazer, é romper com o “centrão”.

Isso parece contraditório com o que defende a direcção quando faz a apologia do centro...
Não há contradição nessa matéria. O eleitorado do centro é volátil. O centro não existe, é verdadeiramente conjuntural e cai para o lado mais forte em cada momento político. Nós temos de mostrar que somos uma direita social, que é responsável, que é democrática e popular, e que consegue convencer o voto do centro. Nós temos de ocupar espaço no centro com as ideias da direita, dando um rumo e dirigindo esse mesmo eleitorado para as nossas causas e bandeiras. O que acontece com a JSD é quase a institucionalização daquela música da Rute Marlene ‘pisca um olho à esquerda, pisca um olho à direita’, e vão seguindo felizes, tentando ser tudo ao mesmo tempo e o seu contrário e no fundo não são coisa nenhuma. No final da votação da eutanásia, vimos a líder da Juventude Social-Democrata a dar um abraço a Isabel Moreira. Não temos nada contra. Nós preferimos abraçar o professor Adriano Moreira.

O que é que distingue Assunção Cristas de Rio?
Cristas tem uma posição que é positiva, de propositura de medidas que visam alterar a ordem política. Foi clarinha como a água na questão da eutanásia e venceu. Foi clarinha no abandono de idosos, na lei dos curadores, proposta pelo CDS, e neste combate que tem feito ao aumento do preço dos combustíveis. Foi também clarinha no chumbo à lei do financiamento dos partidos.

Ela distingue-se por...
É mais interventiva e mais construtiva por fazer política mais pela positiva e por ser um rosto do futuro. Coisa que Rui Rio, com muita pena do eleitorado social-democrata, não consegue ter esse magnetismo, não consegue cravar no pensamento das pessoas um projecto aspiracional para o país. É quase um revisionismo do passado. 
Por aquilo que diz, o CDS e o PS nunca poderão formar uma “geringonça”...
Já aconteceu na História, mas hoje, fazendo uma leitura dos factos políticos, creio que é muito improvável suceder porque têm projectos que são antagónicos e absolutamente concorrentes para o país.  

Alguma vez o CDS pode ser maior do que o PSD?

O CDS é um partido autónomo, tem ideias próprias e constitui uma verdadeira alternativa ao socialismo. A sina do CDS não é ser nem muleta nem satélite nem mordomo nem um sucedâneo destes dois partidos porque o sucesso não é eterno nem o fracasso dura para sempre. Temos de capacitar o CDS de todos os mecanismos de suporte necessários ao seu crescimento, abanando as suas bandeiras. Se se rodear das pessoas certas, se conseguir fazer a transição geracional, apostando nos rostos mais jovens que estão a despontar na JP, o partido tem hipótese de construir um novo país velho, isto é, um país que seja moderno mas que respeite a tradição.

Não exclui uma candidatura à liderança do partido. Vê esse cenário mais próximo ou longínquo?
Não excluo nenhum cenário. Neste momento não penso rigorosamente nisso. Até acredito que seja um cenário que se coloque daqui a bastante tempo e vejo-o numa perspectiva distante porque acabei de ser reeleito presidente da JP. No meu horizonte está uma boa governação da JP e reivindicação do estatuto de primeira força política juvenil em Portugal.

A JP quer estar representada no Parlamento. É uma condição irrevogável?
[risos] Há quase um cisma juvenil que nos demonstra que é preciso ter cabelos brancos para reclamar maturidade política e desempenhar determinadas funções. No Parlamento Europeu, em 751 deputados apenas dois têm menos de 30 anos, e 89 têm menos de 40. No Parlamento, em 230 deputados temos quatro apenas com menos de 30 e 38 com menos de 40 anos. Mas vamos ao domínio da opinião. Os programas de rádio e de televisão têm uma média de idades elevadíssima sem desprimor para os protagonistas: No programa A Opinião da TSF a média de idades é de 73 anos, na Quadratura do Círculo [SIC] a média é de 63 anos, a Prova dos Nove [RTP] 59, o Eixo do Mal 53 e o Outro Lado [RTP] são 45 anos.

Um representante da JP no Parlamento é imprescindível?
O crescimento da JP, o seu protagonismo, e proeminência que tem no debate político merece uma verdadeira oportunidade para ter representação parlamentar.

O futuro do CDS passará por si. E também passará por Adolfo Mesquita Nunes?
Eu e o Adolfo conseguimos convergir em muitas matérias, mas divergimos noutras, o que é saudável.

Vê um quê de Paulo Portas em Cristas?
Configuram estilos de liderança diferentes com modelos de gestão que não se assemelham.

Tem saudades de Paulo Portas?
A título pessoal, tenho saudades porque ele era um óptimo conselheiro, pedagogo e uma personalidade inspiradora. Politicamente, creio que o partido está bem entregue, que valoriza e dignifica com a sua missão actual o legado de Paulo Portas.

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