Tolerância zero na falta de limpeza das matas, GNR não perdoa
Monchique está na lista vermelha dos concelhos em maior risco de incêndio. “O fogo não nasce por si próprio”, diz António Costa, pedindo atenção e vigilância à floresta.
Terminou o prazo oficial para as limpezas dos terrenos e agora é a vez de a GNR entrar em acção. Esta sexta-feira, na derra de Mochique, António Costa foi peremptório: “Quando me perguntam se a Guarda Nacional Republicana vai multar, claro que a GNR, como qualquer autoridade, vai cumprir a sua função.”
Mas insistiu na mensagem: “O nosso objectivo não é andar a cobrar multas.” E apelou à mobilização colectiva nas acções de prevenção e limpeza da mata. “Quem não o fez ainda está a tempo de o fazer”, enfatizou, lembrando as duas vertentes em que se joga a acção em curso. “Prevenir e limpar”, por um lado. Por outro, castigar os infractores: “Quem comete um crime de fogo posto tem de ser punido, porque é um crime da maior gravidade.” Os incêndios, rematou o primeiro-ministro, “sabe-se como começam, mas ninguém sabe como é que vão terminar”.
No terreno, estão a postos os meios de intervenção, mas todos esperam que, desta vez, as coisas corram conforme o planeado e as falhas não se repitam, como sucedeu no ano passado. Nos últimos dois meses tem-se registado uma média 60 incêndios por dia.
Na encosta do alto da Foia, onde o horizonte se estende do mar ao Baixo Alentejo, localiza-se uma das 12 torres de vigia da rede primária e secundária destinadas a cobrir toda a região. A torre, localizada no sítio da Madrinha, permite ter contacto visual com uma das zonas mais perigosas de Monchique, fustigada pelo grande incêndio de 2003.
Foi por lá que António Costa andou durante a tarde (depois de uma manhã dedicada às crianças) e que defendeu a necessidade de continuar as acções de limpeza, mesmo além do prazo estipulado. “Nós temos todos de continuar a proceder à limpeza – seja Estado, sejam autarquias ou particulares –, todos os dias, salvo naqueles dias em Protecção Civil avisa que há risco”, disse.
Tal como a GNR e outras forças de fiscalização, também a Polícia Judiciária vai ser chamada a investigar eventuais crimes. “O fogo não nasce por si próprio, resulta sempre da acção humana – acção intencional e criminosa ou de negligência”. A este propósito, Costa destacou o papel da PJ, que “tem desenvolvido em todo o território uma competência muito importante na investigação dos fogos florestais e no combate à criminalidade associada aos incêndios florestais”. A lei, recordou, “já permite que haja uma vigilância acrescida relativamente àqueles que, no passado, revelaram comportamentos incendiários”.
Segundo um estudo, recentemente divulgado, Monchique é o concelho que está exposto à maior probabilidade de voltar a arder. “Conhecemos a realidade do concelho, sabemos que temos uma situação muito periclitante”, disse Rui André, lembrando ao primeiro-ministro que faltam meios. “Em 2010, tivemos um pelotão [23 elementos] do Exército a fazer vigilância, no ano passado ficou reduzido a três elementos.”
O autarca entende que as torres de vigia “são fundamentais, mas não suficientes – no caso de Monchique temos muitas zonas sombra”. Para suprir essa lacuna, adiantou que estabeleceu acordos com os produtores florestais e as associações de caçadores. O município tem 400 quilómetros quadrados de floresta, distribuída por vales cavados, o que torna quase inacessível o combate terrestre ao fogo.
Rui André (PSD) também destacou os meios de combate que foram exibidos para receber António Costa. “Uma espécie de caravana”, disse, sem deixar de elogiar a “boa colaboração” existente entre o Governo e as autarquias para pôr de pé um programa que cruza os meios da administração central com a local.