António Costa afirmou no recente congresso do PS querer trazer de volta “a melhor geração que o país já produziu”. A juntar a isto, quer o nosso primeiro-ministro trazer todos quantos saíram do país “sem querer”.
Infelizmente, e apesar de termos saído do país “sem querer”, contam 10 anos, quase 11, é já tarde para voltarmos, temos demasiados cabelos brancos, mais de 40 anos, carreiras estabelecidas e já não somos jovens.
Mais, com ordenados na casa dos 3500 euros por mês e 13 semanas de férias por ano, creio não estar Portugal preparado para acolher quem correu a pontapé pela altura da última crise. Senhor primeiro-ministro, se saímos “sem querer”, de igual modo não queremos voltar, muito obrigado pelo pensamento, e o que conta é a intenção.
No entanto, o mesmo não se pode dizer da Inês Torres. Inês Torres, 27 anos, fez furor nos jornais por, em tão tenra idade, fazer já parte do Olimpo académico, ou não estivesse a Inês a dar aulas de Egípcio Clássico em nada mais nada menos que a Universidade de Harvard.
Se a Inês está a dar aulas em Harvard, tal acontece não só por mérito próprio e genialidade, mas também por mérito de toda uma família, a qual apoia a Inês a perseguir um sonho de há 18 anos para cá e, por tudo e por tanto, os meus parabéns à Inês, aos seus pais e avós, principalmente aos avós, que a mim também me foi difícil acreditar.
E sim, se por um lado deixo aqui os meus parabéns, a verdade é que dar aulas faz parte do percurso de qualquer doutorando em Harvard, percebendo-se a razão de tanto alarido pelo facto de a Inês estar sozinha na sala de aula, sem o apoio de qualquer outro professor.
No entanto, preocupo-me com o futuro da Inês, um longo futuro, ainda todo pela frente. O que será da Inês daqui por 20 anos? Eu sei o que será da Inês, pois por alguma razão não segui a vertente de investigação: das duas, uma, ou prosseguirá de "pós-doc" em "pós-doc" um pouco por todo o mundo até ao "pós-doc" final ou, sem nenhum "pós-doc" para se candidatar, acabará no desemprego e de volta a casa, tal como tantos outros doutorandos amigos e conhecidos, apenas os melhores profissionais que um país pode ter, a atender telefones, entenda-se.
Coloca-se, portanto, a pergunta: porque não dar condições para que a Inês possa voltar a casa e leccionar e investigar em Portugal? Em que medida temos de continuar a ser o parente pobre do resto do mundo, a começar logo pela América, lançando os foguetes e apanhando as canas sempre que alguém se faz lá fora quando se podia fazer cá dentro? Porque enquanto as "Ineses" desta terra continuarem a dizer não poder voltar a Portugal por falta de oportunidades profissionais, Portugal e os portugueses continuarão na cauda da Europa e do mundo, para mal de todos nós, a começar pelos pais e avós da Inês, longe para o resto da vida. A América agradece, tal como Inglaterra agradeceu há quase 11 anos.