Agora, Mattarella “que nos explique como sair desta situação”

Novas eleições serão lidas como referendo ao euro e à União. Presidente e M5S podem ter caído na ratoeira de Salvini.

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Mattarella Alessandro Bianchi/REUTERS

O Presidente francês elogiou-lhe “a coragem”, o Partido Democrata (centro-esquerda) saiu em sua defesa e a Constituição não deixa dúvidas: Sergio Mattarella pode vetar qualquer ministro, já que é ao chefe de Estado italiano que cabe aprovar a nomeação de todos os membros do Governo. Nada disto significa que o político a quem chamam “cinzento” ou “invisível” (Silvio Berlusconi comparou-o a um “monge”) tenha agido no interesse dos italianos ao recusar o nome de um eurocéptico para ministro da Economia e Finanças.

Mattarella até pode ter sonhado com o fracasso das negociações entre o Movimento 5 Estrelas, anti-sistema, o mais votado nas legislativas de 4 de Março (32%), e a Liga, partido de extrema-direita anti-UE, que obteve 19% dentro da coligação de direita (37%). Mas não podia evitar permitir-lhes formar governo; afinal, foram mais de 15 milhões os italianos que lhes deram o seu voto. E, apesar de constitucionalmente não ter errado, é a primeira vez que um Presidente veta um ministro, Paolo Savona, por não gostar das suas ideias (eurocéptico) – os antecedentes explicam-se com suspeitas (confirmadas depois) de corrupção ou questões de incompatibilidade.

O Presidente, acusado pela Liga e pelo M5S de “golpe de Estado”, terá chegado a propor para a mesma pasta o “número dois” da Liga, Giancarlo Giorgetti. Só não queria Savona. Matteo Salvini, presidente da Liga que em Março ganhou o estatuto de líder da direita, é que já não recuou. Mais um sinal de que tanto Luigi Di Maio (líder do M5S) como Mattarella terão caído na sua ratoeira: nestas negociações, Salvini cedeu o lugar de primeiro-ministro, nas próximas espera ter votos suficientes para não ter sequer de negociar.

Certo é que o governo técnico que Mattarella pediu a um ex-membro da direcção do Fundo Monetário Internacional, Carlo Cottarelli, para formar ainda não existe nem se sabe se chegará a nascer. E que foi essa instabilidade, somada à certeza de novas eleições dentro de alguns meses, que deixaram os investidores à beira de um ataque de nervos, na terça-feira, com consequências para as bolsas e juros da dívida e prémios de risco a dispararem. Pior: agora sim, a próxima campanha será lida como um referendo ao euro e à relação da Itália com a União que ajudou a fundar.

Di Maio ainda sugeriu um processo parlamentar para depor o Presidente. Salvini, mais experiente, prepara-se para tentar mudar a Constituição e fazer deste um cargo eleito pelos italianos em urna e não pelos deputados. E agora, enquanto Di Maio tenta salvar um acordo que Salvini talvez nunca tenha querido e Cottarelli se vê obrigado a recuar, o líder da Liga diz aos jornalistas que peçam a Mattarella “que nos explique como sair desta situação”. O mais provável é que vingue entre muitos eleitores a tese de Salvini sobre a decisão de Mattarella: “O facto mais grave é que o Presidente da República escolheu os mercados europeus em vez do povo italiano”.

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