Girafa do zoo morreu ao cair num fosso quando visitante a chamou para comer
É proibido os visitantes alimentarem os animais no zoo de Lisboa, mas por vezes ainda acontece, apesar da vigilância dos tratadores. A girafa tinha 11 anos e deixa uma cria de seis meses de idade.
Uma girafa do Jardim Zoológico de Lisboa morreu no sábado passado ao cair para o fosso que separa estes animais das pessoas. Um visitante não respeitou a indicação para não alimentar os animais e a girafa aproximou-se da borda mais do que devia e precipitou-se, não resistindo à queda. O visitante foi identificado pela PSP.
Tratava-se de uma girafa-de-Angola com 11 anos e cinco meses, que em Novembro tinha dado à luz uma cria – um acontecimento noticiado em toda a imprensa, depois de a equipa do Jardim Zoológico ter divulgado um vídeo do parto e dos primeiros passos da jovem girafa no YouTube.
“Isto aconteceu ao lado da placa a pedir que não alimentem os animais”, diz ao PÚBLICO Inês Carvalho, do departamento de marketing do zoo. Foi algo “inédito” que veio ensombrar as comemorações dos 134 anos do Jardim Zoológico, que se assinalaram precisamente esta segunda-feira. “É uma situação muito triste, por todos os motivos.”
A responsável explica que, após a queda do animal, “vedou-se a zona e encerrou-se o teleférico”, continuando o restante parque a funcionar normalmente. A pessoa que “esteve a alimentar a girafa e a provocá-la” foi “identificada pela polícia” e “foram identificadas também testemunhas”, acrescenta Inês Carvalho. Para lá das diligências policiais, neste momento está igualmente a decorrer um processo de averiguação interno.
“Os animais são alimentados, não é necessário as pessoas trazerem comida de casa”, insiste Inês Carvalho. Apesar de haver placas com essa indicação por todo o lado, de o folheto distribuído à entrada também ter isso escrito e de haver um vídeo com as regras do zoo logo nas bilheteiras, alguns visitantes continuam a tentar alimentar os animais. Talvez porque, durante muito tempo, essa prática não só era permitida como até incentivada. Por exemplo, à entrada do Jardim Zoológico existiam máquinas de venda de amendoins para dar aos macacos.
Há uns anos, porém, o paradigma mudou. “O jardim deixou de ser uma montra de animais”, diz Inês Carvalho, explicando que o objectivo passou a ser o de proporcionar melhores condições aos bichos, para que estes se sintam mais próximos do seu habitat natural e se reproduzam. O zoo retirou então muitas grades e mexeu nas instalações, procurando um equilíbrio entre o conforto dos animais e a segurança dos visitantes. De então para cá, “temos menos casos de visitantes a dar comida aos animais”, explica, mas ainda vai havendo casos.
As girafas-de-Angola (Giraffa camelopardalis angolensis) estão presentes em apenas em três jardins zoológicos da Europa: além de Lisboa, os de Dortmund, na Alemanha, e Amersfoort-Utrecht, na Holanda. É uma espécie considerada “vulnerável” pela União Internacional para a Conservação da Natureza, uma vez que a sua população tem diminuído nas áreas de onde é originária, sobretudo o Botsuana e a Namíbia. Os quatro principais motivos para a girafa estar em perigo são a perda de habitat, os conflitos locais, a caça ilegal e a alteração dos ecossistemas.
“Caracterizada pelo seu pescoço longo, que lhe possibilita procurar alimento em ramagens muito altas, e pela sua língua comprida e azulada, cujo revestimento de queratina a protege dos espinhos das acácias, possui dois cornos curtos, cobertos de pele e pelo, que crescem lentamente ao longo da sua vida”, explicava o Jardim Zoológico num comunicado lançado em Janeiro para anunciar o nascimento da nova cria.
Essa cria tem agora seis meses de vida e já come sozinha, o que é menos uma dor de cabeça para os tratadores: as crias costumam ser amamentadas até aos oito meses. Ainda assim, as girafas mantêm-se dependentes da progenitora até aos dois anos de idade ou mesmo até mais tarde, pelo que o apoio do restante grupo será fundamental para o desenvolvimento desta cria.