O menino de ouro que sonha com o quarto anel de campeão
A maior estrela do basquetebol teve uma infância difícil, no Ohio. Uma vida depois, acaba de carimbar passagem à oitava final consecutiva e de reforçar a marca dele na modalidade.
LeBron James, estrela dos Cleveland Cavaliers, foi uma peça fundamental no puzzle da equipa no sétimo jogo da final da Conferência Este da Liga Norte-americana de Basquetebol profissional (NBA). Na partida disputada na madrugada desta segunda-feira, contra os Boston Celtics, os “Cavs" ganharam por 87-79 e carimbaram a passagem à final do campeonato. O talentoso extremo de Cleveland ficou a apenas uma assistência de distância de mais um triplo-duplo, terminando a partida com 35 pontos, 15 ressaltos e nove assistências.
Com a vitória na final da conferência, LeBron assegurou a oitava presença consecutiva na final da NBA. O adversário será decidido na madrugada desta terça-feira, no jogo sete da final da Conferência Oeste, entre Houston Rockets e Golden State Warriors.
O “Rei” James — como é apelidado pelos entusiastas da modalidade — teve um início de vida complicado. Nasceu a 30 de Dezembro de 1984, no Ohio, filho de uma mãe solteira de 16 anos. Viviam na casa da avó materna, que morreu com um ataque cardíaco, quando LeBron tinha três anos.
Num texto de homenagem escrito para a organização de beneficiência Shiver Report, o jogador relembra os tempos difíceis que se seguiram à morte da avó: “Perdemos a casa. Mudámos de casa uma dúzia de vezes em três anos. Foi assustador. A minha mãe trabalhava em qualquer lado, a fazer qualquer coisa, a tentar manter-nos à tona. Mas enquanto enfrentávamos tudo isso, eu sabia uma coisa: tinha a minha mãe a proteger-me.”
O puto no radar
Um dia, o basquetebol entrou na vida dele e o talento fez o resto. Primeiro jogou nos Northeast Ohio Shooting Stars, uma equipa amadora, que teve sucesso nas competições locais e regionais. LeBron já se destacava pela técnica e maturidade em campo. No liceu, alinhou pela formação do St. Vincent-St. Mary High School, uma escola católica e conservadora, decisão que criou alguma polémica na comunidade afro-americana a que LeBron pertencia.
No primeiro ano de liceu, LeBron registou uma média de 21 pontos e seis ressaltos por jogo, ajudando a equipa a acabar a época invicta (27-0) e a vencer o título estatal. No segundo ano, James melhorou a prestação individual. Revalidou o título estatal e foi eleito um dos melhores jogadores do competitivo campeonato de liceus norte-americanos.
Já como sénior, em 2003, o jogador percorreu o país e disputou torneios em que marcava, em média, mais de 30 pontos por jogo. Durante esse ano, outras equipas da NBA começaram a sondá-lo. Acabaria por dar o salto para a NBA directamente do liceu, sem passar pelo basquetebol universitário, que costuma ser a antecâmara de muitos profissionais que chegam às equipas da principal competição mundial de basquetebol.
LeBron foi a primeira escolha da formação de Cleveland. Nos sete anos em que vestiu a camisola dos "Cavs", passou de um miúdo com potencial a uma superestrela com projecção mundial. Mas a fortuna não foi imediata: nas primeiras duas épocas, apesar de excelentes prestações individuais, James não chegou com a equipa aos play-off. À terceira, foi eliminado numa fase ainda inicial. Mesmo assim, deu nas vistas e coleccionou distinções inéditas para um atleta da idade dele.
Na temporada 2005-06, “King” James esteve perto do título, mas os Cavaliers foram derrotados, sem apelo nemo agravo, na final pelos San Antonio Spurs (0-4). Nas duas épocas seguintes, os Cavaliers foram aos play-off, mas o destino não foi melhor e acabaram sempre eliminados antes da final.
A "traição" Miami
A 1 de Julho de 2010, LeBron tornou-se um jogador livre, com o fim do contrato que o ligava aos "Cavs". Exactamente uma semana depois, no dia 8, o jogador mais cobiçado da NBA anunciou na ESPN, em directo para todo o país, a decisão de rumar a Miami. No Ohio, os adeptos dos “Cavs” não lhe perdoaram a saída, classificando a mudança como “traição”.
Chris Bosch, Dwayne Wade e LeBron James formaram então o trio letal dos Miami Heat que, em quatro anos, conquistou dois títulos e perdeu duas finais, contra Dallas Mavericks e San Antonio Spurs, em 2011 e 2014, respectivamente. O primeiro anel de campeão de LeBron James foi conquistado na temporada 2011-2012, e com ele veio também a distinção de MVP [Most Valuable Player, ou jogador mais valioso] na fase regular e nas finais da competição, terminando com uma média de 30,3 pontos, 9,7 ressaltos e 5,6 assistências por jogo no play-off desse ano.
O regresso do filho pródigo
Conquistada a glória em Miami, abriu-se a porta do regresso aos Cavaliers. O amor terá falado mais alto do que o dinheiro e LeBron James voltou a casa em 2014. Recebido pelos fãs de braços abertos, deu início a uma das mais rentáveis etapas da história daquela equipa. Chegou sempre à final, ganhou um título que lhe escapava há 52 anos, perdendo as outras duas finais contra os Golden State Warriors, nas épocas 2014-2015 e 2016-2017.
Pelo meio, em 2016, LeBron James cumpriu o sonho de ser campeão com o clube do coração, pondo fim ao jejum de Cleveland. Em 2003, quando aos 19 anos chegou aos Cavaliers, prometeu iluminar a cidade como se de Las Vegas se tratasse. Pouco mais de uma década depois, de lágrimas nos olhos, a superestrela da NBA recordou, no meio de uma chuva de confetti e champagne, por que regressara de Miami: “Eu voltei por uma razão. Voltei para trazer um campeonato à nossa cidade. Eu sabia do que era capaz”.