Afinal, o Nobel da Literatura poderá só voltar a ser atribuído em 2020 ou mesmo depois
Director da Fundação Nobel garante a rádio sueca que não há qualquer deadline para a atribuição do prémio. No início do mês, a Academia Sueca anunciou que seriam entregues dois em 2019.
Primeiro, a Academia Sueca, responsável pela atribuição anual do Nobel da Literatura, viu-se confrontada com um escândalo de assédio sexual, depois teve de lidar com a saída de vários dos seus membros, incluindo a sua secretária permanente Sara Danius, e com alegações de má gestão, e agora enfrenta uma reestruturação, a avaliar pela entrevista que o director da Fundação Nobel, Lars Heikensten, deu no sábado à rádio nacional sueca, citada pelo diário norte-americano The New York Times.
Nessa conversa com os jornalistas da Sveriges Radio, Lars Heikensten deu a entender que a crise na academia, uma instituição de prestígio com mais de 200 anos, pode ser bem mais profunda do que se pensa ao admitir que no próximo ano o prémio também poderá não ser atribuído.
No início deste mês, a academia anunciara já que o Nobel da Literatura deste ano ficaria em suspenso em virtude das acusações de assédio sexual que recaem sobre o fotógrafo Claude Arnault, marido da poetisa Katarina Frostenson, membro da instituição. Num comunicado divulgado na sua página oficial, a academia fez saber que o prémio deste ano seria atribuído no seguinte, juntamento com o escolhido da edição de 2019. Agora Heikensten vem dizer que Nobel só em 2020, ou mesmo depois: “[O prémio] será atribuído quando a Academia Sueca tiver recuperado a confiança do público – e isso significa que não há nenhum deadline para 2019.”
É a Fundação Nobel que administra os fundos legados pelo químico e filantropo sueco Alfred Nobel, que deixou escrito em testamento que seria a academia a responsável pela atribuição daquele que é o mais importante prémio literário do mundo.
Claude Arnault, que gere com a mulher a associação cultural Forum, que segundo o New York Times recebe há décadas apoio financeiro da Academia Sueca, é acusado de assediar sexualmente 18 mulheres, na sua maioria jovens aspirantes a escritoras e a artistas, e de revelar antecipadamente o nome de autores que viriam a receber o Nobel.
Alguns dos episódios agora relatados pelas mulheres que denunciam o comportamento abusivo de Arnault, dado a conhecer em Novembro pelo jornal Dagens Nyheter, aconteceram em apartamentos propriedade da academia em Estocolmo e em Paris.
Na mesma entrevista à rádio sueca, o director da Fundação Nobel deixou ainda a sugestão de que os dez membros restantes da academia deviam abandonar a instituição: “Creio que todos precisam de pensar se são bons para a Academia Sueca e para o Nobel – e se o serão no futuro –, ou se é melhor renunciarem [aos seus lugares].”
Lars Heikensten acrescentou também que, caso a academia se revele incapaz de resolver os seus problemas, a fundação poderá vir a escolher outra instituição como responsável pela atribuição do prémio, o que exigiria uma alteração nos estatutos do Nobel da Literatura.
Há quem diga, no entanto, que separar a Academia Sueca do galardão é simplesmente impossível, porque foi o próprio Alfred Nobel quem criou o vínculo entre o prémio e a instituição.
Passam agora 70 anos sobre a última vez que o prémio não foi anunciado no ano a que respeita, sendo esta a oitava ocasião em que a atribuição é adiada.
O adiamento do prémio a atribuir na Literatura em nada afecta as distinções da galáxia Nobel nas restantes áreas.