Discussão ideológica no PS “é feita no éter”

Fernando Medina chegou ao congresso para defender uma posição mais moderada do partido, em resposta a Pedro Nuno Santos.

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Fernando Medina Rui Gaudêncio

Fernando Medina, presidente da Câmara de Lisboa, fez um discurso próximo do que defende António Costa, arrefecendo uma euforia mais de esquerda. Recusa o bloco central, mas não clarifica se defende a reedição da “geringonça”.

Disse que o partido tinha de ter uma visão mais pragmática e decidir caso a caso como se posiciona. Esta discussão ideológica é precipitada?

O PS não é nenhum partido que esteja a viver uma crise existencial. Sabe muito bem o que é. Aquilo que marca a diferença é ver em cada época quais as medidas que dão corpo aos seus valores. A política sem acção, sem capacidade de executar, seja no plano europeu, seja nacional, seja autárquico, perde muito do seu sentido e da sua eficácia. A proclamação só dos valores não é suficiente. É essencial que o PS seja claro sobre a forma como vai traduzir os valores na vida dos cidadãos. Isso é muito mais importante do que qualquer debate feito no éter.

Tendo em conta que para o ano há três actos eleitorais o PS não devia marcar qual o posicionamento que deve ter?

O PS já o marcou, vai sozinho aos actos eleitorais, apresentando as suas ideias e o seu programa e os eleitores vão pronunciar-se, seja no âmbito das eleições europeias, seja no âmbito das legislativas.

Discorda de Pedro Nuno Santos que diz que o caminho tem de ser pela esquerda.
O PS tem uma identidade muito própria, não se define em função dos outros. Do ponto de vista das soluções governativas, todos concordam — não há unanimidade no PS, mas anda perto disso — que as soluções de bloco central são soluções limite, num regime democrático parlamentar, porque limitam as oposições e as alternativas. Do ponto de vista das políticas concretas, o realismo também aconselha a ver que quando discutimos, por exemplo, o sistema de saúde, aquilo que nos afasta do PSD ou do CDS é uma imensidão. Aliás são partidos que votaram contra a criação do SNS, que não acham que a existência de um serviço público de génese pública, com gestão pública, tenha de desempenhar um papel central na prestação de cuidados de saúde. Isso torna muito difícil um diálogo nessa matéria com os partidos à direita. O mesmo em relação à Segurança Social ou da escola pública: há de facto um fosso muito grande. Agora, por outro lado, há matérias em que o diálogo tem de ser muito transversal, muito abrangente. Não só deve ser feito com realismo como o país precisa que ele seja feito. Em matéria de investimento público, por exemplo, o país hoje está a pagar uma factura por ter atrasado um conjunto de investimentos importantes, de ter oscilado em função dos ciclos que investimentos devia ou não fazer. Hoje sinto isso muito directamente na gestão da cidade de Lisboa. Estamos a perder emprego. Podíamos ter mais emprego, mais investimento no país se já tivéssemos decidido uma infra-estrutura aeroportuária. Não vejo que haja qualquer razão para que o PS não dialogue com o PSD, com os outros partidos para estabilizar um plano de investimentos. A mesma coisa em matéria de descentralização. Não é consequente haver um plano de descentralização que não possa ter uma plataforma alargada com o PSD que é a segunda maior força autárquica do país.

Deve o PS continuar a procurar esta solução com acordos pontuais com PSD e CDS?
O PS deve apresentar-se sozinho às eleições de 2019 com as suas ideias e o seu programa, claramente de esquerda, progressista e democrática.

E se não tiver maioria absoluta?
Aí telefone e combine uma entrevista e falaremos sobre o assunto, pode ser na noite das eleições.

É mais fácil falar com o PSD de Rui Rio?
Rui Rio tem pouco tempo como líder do PSD, mas tem procurado imprimir uma dinâmica diferente do relacionamento partidário. Passos Coelho tinha o PSD completamente bloqueado. Este PSD já foi capaz de estabelecer um diálogo frutuoso com o Governo em matéria de descentralização.

Como é que viu o aplauso a Pedro Nuno Santos?
Ouvi bem, fez um bom discurso, uma boa intervenção, mobilizou, foi bem feita.

Sai daqui como o porta-voz de uma ala mais moderada do PS?
(Risos) Não, não. Saio exactamente como entrei: como presidente da Câmara de Lisboa, membro do secretariado e como apoiante inequívoco de António Costa.

E sem pensar numa possível candidatura à liderança do PS?
Sem pensar no futuro que não seja o da eleição de António Costa como primeiro-ministro do país.

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