A primeira temporada de Lorenzo Viotti na Gulbenkian

Um novo maestro marca a programação da temporada 2018/19 da Gulbenkian, que prossegue a mesma linha dos últimos anos do Serviço de Música da fundação. Com muitos grandes nomes, e mantendo o convite a novos públicos.

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Maestro Lorenzo Viotti Márcia Lessa
Christian Thielemann, Orquestra, Concerto
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Mahler Chamber Orchestra Mário Lessa
Pianista
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Pianista Murray Parahia Felix Broeda
Elena Zaremba, Ópera Alemã de Berlim, Elena Zhidkova, Ópera Estatal de Viena
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Meio-soprano Elena Zhidkova Joern Kipping

A temporada musical de 2018/19 da Fundação Calouste Gulbenkian vai ser marcada pela presença de um novo maestro titular da Orquestra Gulbenkian, tal como foi anunciado em Outubro do ano passado: ele é Lorenzo Viotti, um jovem maestro franco-suíço que ainda não teve ocasião de mostrar quais as suas ideias, opções e formas de trabalhar como maestro titular. E que, por motivo de doença, não pôde deslocar-se a Portugal para a apresentação da temporada, esta sexta-feira, ao lado do director do Serviço de Música da fundação, Risto Nieminem. 

A inclusão no programa de cinco concertos dirigidos por Viotti foi, de resto, uma das novidades destacadas na programação. Sendo um apaixonado da ópera, é natural que se aguarde com curiosidade saber como o novo maestro pegará na ópera Romeu e Julieta de Gounod, que se realizará em Março de 2019, em versão de concerto, com a soprano Vannina Santoni e o tenor Georgy Vasiliev nos papéis principais. Para além disso, dirigirá dois concertos mais “tradicionais” com o Coro e a Orquestra Gulbenkian, em Outubro e Novembro, com Mahler (1.ª Sinfonia), Brahms e Mozart. E  um Requiem de Mozart no Mosteiro dos Jerónimos (em Julho de 2019). Um espectáculo um pouco diferente será certamente o concerto encenado com música em diálogo com poemas da Ode Marítima de Álvaro de Campos, com João Grosso como recitante (em Novembro).

Mas não é só Viotti que é novidade nesta programação, no que diz respeito a maestros. A equipa conta agora com Giancarlo Guerrero, maestro convidado principal, Leonardo García Alarcón, maestro associado, e Nuno Coelho, maestro convidado. E Joana Carneiro continua a dirigir artisticamente a Orquestra Estágio Gulbenkian, enquanto Michel Corboz e Jorge Matta mantêm-se, respectivamente, como maestro titular e maestro adjunto do Coro.

Intérpretes seguros

A programação da temporada inclui três temas ou pequenos “ciclos”, que surgem como formas de arrumar um pouco ideias diversas de programação: são eles Música no Tempo, Ibéria e Música no Feminino, propondo concertos que põem lado a lado música mais antiga e mais recente, concertos de música ibérica e ainda um conjunto de espectáculos de mulheres intérpretes da música clássica ou da música popular (neste caso integrando o ciclo de músicas do mundo): em Janeiro de 2019, poderemos ouvir a maliana Rokia Traoré, as irmãs iranianas Mahsa e Marjan Vahdat, a fadista Aldina Duarte, a maestrina Tianyi Lu, a violinista Carolin Widmann e ainda a pianista Joana Gama.

Mas são ainda os “grandes intérpretes” da música clássica que fazem um dos eixos fundamentais da programação, desde logo com a abertura da temporada, a 7 de Setembro, com o maestro Gustavo Dudamel dirigindo a Mahler Chamber Orchestra, num concerto em que tocarão a 3.ª Sinfonia de Schubert e a 4.ª Sinfonia de Mahler.

Ao longo da temporada, propõem-se depois concertos e recitais de intérpretes de renome, com um peso muito significativo de pianistas e violinistas, mas também com o regresso do contratenor Franco Fagioli, em Outubro, para participar na ópera Serse, de Händel, em versão de concerto. No violino, há nomes que são também “valores seguros”: entre eles, Michael Baremboim, que vem tocar três 'bês' maiúsculos: Bach, Bartók e Boulez. No piano, idem aspas. Na impossibilidade de referi-los a todos, destaquemos o concerto de Marta Argerich e Stephen Kovacevich (em Março) e o regresso de Sokolov (em Maio). Ainda em Maio, oportunidade para ouvir outra estrela consagrada do piano: Murray Perahia. E Thomas Adès, que vem desta vez não como compositor, nem como maestro, mas para fazer um recital pianístico.

Atenção a alguns concertos que podem passar despercebidos no meio de tantas estrelas: por exemplo, em Março, a Gustav Mahler Jugendorchester tocando Berg e Mahler (os Rückert-lieder) com Elena Zhidkova, uma meio-soprano na ribalta. E alguns jovens intérpretes, como o Sergey Khachatryan, que vem tocar violino num dos concertos dirigidos pelo maestro titular.

Em busca de novos públicos

A programação da temporada 2018/19 parece prosseguir, no essencial, os caminhos delineados antes pelo director do serviço de música da Fundação, Risto Nieminen. Isto apesar de algumas novidades: entre elas, a realização de um Concerto de Ano Novo, com valsas de Strauss e não só. Antes disso, no Natal, a Gulbenkian realizará um concerto “para toda a família”, cruzando repertório clássico e popular num concerto intitulado Big Silent Night Music.

Pela primeira vez, a Fundação Gulbenkian acolherá no seu espaço, em Março, os Aga Khan Music Awards, com entregas de prémios, conferências e vários concertos. Outra novidade da temporada é a realização de uma oficina-concerto para famílias a partir da ópera A Flauta Mágica, de Mozart, uma iniciativa com o apoio da rede ENOA e do Programa Europa Criativa da União Europeia, que se realizará em Dezembro.

Várias outras actividades, aliás, convocam a participação do público ou apontam para tentativas de renovação e crescimento de públicos, como os Concertos de Domingo, a preços mais acessíveis, que se irão manter, ou projectos como os concertos participativos, que se realizam desde 2014: este ano, o Coro Participativo estará ao lado do Coro e Orquestra Gulbenkian para interpretar o Requiem de Mozart, dirigido por Nuno Coelho, num concerto que se realiza em Setembro, perto do início da temporada.

Alguns concertos com um cunho marcadamente “popular” (e que têm tido grande afluência) são os que se continuarão a fazer com música tocada ao vivo, a acompanhar obras populares do cinema. Este ano, há Amadeus, de Miloš Forman; Star Wars: Uma Nova Esperança, de George Lucas; e Tempos Modernos, de Charles Chaplin. A Orquestra Gulbenkian apresenta ainda, em Setembro, um concerto ao ar livre com bandas sonoras de filmes com temas escolhidos pelo público, que é convidado, previamente, a votar nas suas músicas preferidas. Este espectáculo tem lugar no Vale do Silêncio, no âmbito do festival Lisboa na Rua, e terá a direcção de Joana Carneiro.

Um pé na ópera e outro no Metropolitan

A temporada da Gulbenkian dá algum peso à sua produção operática, apostando sobretudo em óperas em versão de concerto (Händel, Gounod e ainda Madama Butterfly, de Puccini, com a soprano Melody Moore) e na continuidade das transmissões directas da Ópera do Metropolitan (a que se somam algumas transmissões em diferido). Em Abril, uma ópera contemporânea com música de Frederik Neyrinck, encenada pelo Atelier Bildraum, apresentada na Sala Polivalente da Coleção Moderna: Icon – uma ópera do século XXI.

Têm grande peso na temporada o Coro e a Orquestra Gulbenkian, inclusive em alguns concertos corais estruturantes: um Requiem de Verdi em Novembro, e La Passione, uma leitura encenada da Paixão segundo São Mateus, de Bach, concebida por Romeo Castellucci, que acontece no Centro Cultural de Belém, para além de outros concertos corais no Panteão Nacional e na Igreja de São Roque.

O Festival Jovens Músicos, realizado em parceria com a Antena 2/RTP, realiza-se mais uma vez na Gulbenkian, logo no início da temporada, durantes três dias. E a residência da Orquestra Juvenil Gustav Mahler, incluindo quatro concertos, voltará a fazer-se na Páscoa.

À procura de público novo, embora mantendo os eixos fundamentais: Coro e Orquestra, grandes intérpretes, um pé na música popular e outro na ópera. Com um repertório assente na tradição clássica e romântica, com alguma música antiga, vários intérpretes de música moderna do século XX e menos obras da actualidade. Ou seja: uma temporada com uma novidade de peso (dada a relevância da Orquestra Gulbenkian), que é ter um novo maestro titular, mas que continua caminhos já começados. Ou, dito de outra forma, uma abertura e renovação cautelosas, com base em valores seguros.

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