Até ao fim do mundo

Wim Wenders continua a alinhar filmes esquecíveis, e contudo Submersos é muito claramente uma história feita à sua medida.

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Já não se consegue escapar à ironia: os cineastas que fizeram as “novas vagas” mundiais dos anos 1960 e 1970 tornaram-se hoje nos exactos burgueses acomodados contra os quais se ergueram originalmente, como se se tivessem conformado a um destino no qual já não se conseguem empenhar. Wim Wenders é um bom exemplo disso — o último filme onde o sentimos verdadeiramente inteiro foi a sua magnífica homenagem a Pina Bausch em 2011, e desde o início do século XXI a sua única ficção que nos convenceu foi a colaboração com Sam Shepard, Estrela Solitária, de 2005. Ainda assim, é inegável que este Submersos inerte e pesadão, adaptando um romance do jornalista escocês J. M. Ledgard, tem tudo a ver com a própria natureza da obra anterior do cineasta.

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O espião e a cientista que se apaixonam de surpresa num fim-de-semana à beira-mar são os mesmos seres sempre em busca de algo dos grandes road movies de Wenders nos anos 1970, aqui transportados para os nossos dias. As viagens de Alicia Vikander e James McAvoy, literalmente “até ao fim do mundo” e em nome de um certo idealismo moral, podem até ser vistas como um olhar melancólico sobre a própria obra de Wenders, sobre os becos sem saída aos quais o estado do mundo (e a sua obra) leva. Tudo isto é verdade, tal como é verdade que o homem não desaprendeu de filmar, mas não salva Submersos de ser mais cerebral do que sentido, um romance onde não sentimos chama nem centelha (mais por culpa de uma Vikander que parece estar aqui em piloto automático). E há uma última ironia, certamente deliberada, mas que diz muito sobre o actual estado do cinema de Wenders: a certa altura, McAvoy pergunta “alguma vez conheceste uma pessoa verdadeiramente pobre”? Que esta questão seja posta num alto melodrama burguês filmado com uma competência quase fetichista é sintomático da perda que o cinema de Wenders tem vindo a alinhar.

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