Toupeira-de-água do Douro é o animal 8000 da Photo Ark
Fotógrafo da National Geographic esteve no Douro para retratar algumas das espécies que a sua “arca fotográfica” tinha em falta, como a toupeira-de-água e o chasco-preto, ambos em perigo de extinção.
Desde Outubro de 2017, a “maior arca fotográfica do mundo” já acolheu mil novas espécies e o animal número 8000 é português. Joel Sartore, o criador da Photo Ark, da National Geographic, esteve em Portugal durante quatro dias no passado mês de Abril, e a toupeira-de-água (Pyrenean desman) ocupa agora um lugar de destaque no projecto que ambiciona a documentação de todas as espécies animais em cativeiro. Sartore esteve em Portugal, pela primeira vez, precisamente em Outubro do ano passado, na inauguração da exposição Photo Ark na Galeria da Biodiversidade — Centro Ciência Viva do Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto.
Foi com Daniela Coutinho, do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (Cibio-InBio) da Universidade do Porto, que o fotógrafo viajou por vários pontos do Norte do país em busca de algumas das espécies que tinha em falta. A toupeira-de-água — capturada durante a noite num pequeno riacho e devolvida ao seu habitat natural por uma equipa de investigadores do Cibio — é um animal nocturno de pequena dimensão e está em vias de extinção.
Na Quinta dos Malvedos, uma das propriedades do grupo familiar Symington, conhecido pelos vinhos do Porto, vivem algumas toupeiras-de-água, que estão a ser estudadas por um grupo de investigadores da secção de Lisboa daquele centro de investigação. Segundo a coordenadora executiva para as relações internacionais do Cibio, a população de toupeiras-de-água está “em franco declínio”. “Os números são assustadores”, diz: os estudos mostram que, nos últimos 20 anos, a população deste mamífero insectívoro decaiu perto de 60%. “E quase ninguém o conhece.” A União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) estima que existam apenas 10.000 exemplares em Portugal.
Além da toupeira-de-água — “um animal inacreditável”, nas palavras entusiasmadas de Daniela Coutinho —, Joel Sartore aproveitou o facto de se encontrar no Douro para fotografar o chasco-preto (Oenanthe leucura), uma ave “muito pequenina” conhecida como “o pássaro do vinho do Porto”. O chasco-preto, cujo macho se caracteriza por uma plumagem escura e uma cauda branca, “vive e nidifica nos murinhos dos socalcos das vinhas do Douro” e também integra a lista de espécies em vias de extinção para as quais o norte-americano quer chamar a atenção com este projecto de dimensões megalómanas. É nas propriedades da Symington que o Cibio tem a decorrer um estudo de monitorização destas aves, bem como de morcegos, “que controlam as pragas”.
Nos quatro dias que passou em Portugal, Sartore passou ainda pelo Parque Biológico de Gaia e regressou ao Jardim Zoológico de Lisboa, onde já tinha retratado algumas espécies na primeira visita a Portugal. Uma das fotografias da toupeira-de-água, da autoria do norte-americano, vai ainda ilustrar um artigo científico que uma equipa de investigadores do Cibio espera publicar, muito em breve, na revista Animal Conservation Journal.
A Photo Ark está agora a cerca de dois terços de ser terminada — algo que acontecerá quando as mais de 12.000 espécies animais em cativeiro estiverem totalmente retratadas. A exposição, que desde Outubro de 2017 ocupa várias salas da Galeria da Biodiversidade do Porto, com fotografias, vídeos e materiais educativos, pode ser visitada até 29 de Julho, e já inclui outros animais portugueses ou fotografados em Portugal, como o lobo-ibérico, a girafa-de-angola e a lebre-ibérica.