Credores do Sporting aceitam adiamento do reembolso das obrigações
Assembleia geral aprovou proposta da administração de prolongar o prazo por seis meses.
Os detentores de títulos de dívida da SAD do Sporting aceitaram o adiamento do reembolso das obrigações que venciam já no dia 25 de Maio. Em assembleia geral realizada na manhã deste domingo, os credores do clube votaram favoravelmente o adiamento do empréstimo de 30 milhões de euros para 26 de Novembro, que tinha sido pedido pela administração sportinguista.
Em comunicado enviado ao regulador do mercado de capitais, a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), a SAD sportinguista dá nota de que a decisão foi tomada por unanimidade, com 297.392 votos favoráveis. De acordo com os requisitos, a cada obrigação corresponde um voto, pelo que o número de votantes corresponde a 5% do total. Cada título de dívida da linha, emitida em 2015, vale cinco euros, perfazendo um total de 30 milhões, valor que, no calendário inicial, teria agora de ser pago na próxima sexta-feira.
Esta foi a segunda assembleia geral, depois de a primeira, realizada a dia 4 deste mês, não ter tido efeitos práticos por falta de quórum. Na altura, houve apenas 30.755 votos, o que corresponde a 1,03% da emissão em causa, quando era necessário atingir os 3.000.000 votos (metade do total). Na assembleia de hoje, poderia haver uma decisão independentemente do número de credores, desde que aprovada por uma maioria de dois terços dos votos.
Quando foi emitida, em Maio de 2015, esta linha atraiu 4241 investidores, com a esmagadora maioria a subscrever até mil obrigações (o mínimo eram 20 obrigações). Na altura, a oferta foi superior à oferta em 2,57 vezes, mostrando assim uma grande adesão.
O processo de adiamento do reembolso dos 30 milhões de euros teve início a 10 de Abril quando a administração do Sporting, no meio da turbulência interna, considerou que não estavam reunidas as condições para emitir nova dívida, o que iria permitir cumprir com o reembolso da linha que vencia no final de Maio.
Novas emissões até 60 milhões
Neste momento, a administração já tem luz verde para emitir uma ou mais emissões de novas obrigações, até ao montante máximo de 60 milhões de euros, ganhando assim fôlego financeiro para pagar o reembolso da linha em vigor e para outras necessidades, nomeadamente de tesouraria.
As emissões, a ocorrer antes do final do ano, terão também o valor unitário de cinco euros, e uma maturidade não superior a quatro anos. De acordo com o comunicado do clube, para a primeira emissão a taxa de juro já foi fixada em 6% ao ano, com pagamento de juros semestrais. A linha que vence agora no final de Novembro tem uma taxa nominal bruta de 6,25% ao ano, o que permite uma taxa de rentabilidade efectiva, líquida de impostos, de 4,54%. Com o adiamento aprovado esta manhã, os obrigacionistas vão ganhar mais com um novo pagamento de juros, com vencimento semestral a ocorrer a 25 de Maio e 26 de Novembro, dia em que haverá também lugar ao reembolso do capital.
Olhando para os últimos anos, verifica-se que o Sporting (tal como as SAD de outros clubes) tem recorrido cada vez mais ao mercado obrigacionista para se financiar, num negócio que é também benéfico para os intermediários financeiros: da linha de 30 milhões emitida em 2015, 1,15 milhões de euros foram para pagar comissões às instituições envolvidas, com destaque para o BESI, BCP e Caixa BI.
Nas vésperas da assembleia geral deste domingo, as obrigações estiveram sob pressão, com uma desvalorização do valor implícito no mercado secundário. O mínimo, no entanto, foi em Abril, após ter sido conhecida a intenção de adiar o prazo do reembolso.
Troca de acusações
A aprovação do adiamento, concretizada no dia em que o Sporting disputa a Taça de Portugal com o Desportivo das Aves, acontece também menos de 24 horas depois de o seu presidente, Bruno de Carvalho, ter disparado em várias direcções, nomeadamente contra Álvaro Sobrinho, segundo maior accionista do clube, via Holdimo, e José Maria Ricciardi, ex-líder do BESI e antigo dirigente leonino. Sobre este último, afirmou que era o "estratega de tudo isto que se está a passar”, ou seja, dos ataques à direcção, o que levou Ricciardi a replicar na SIC Notícias que só via dois caminhos para Bruno de Carvalho: um deles é “ser arrastado nas investigações criminais que neste momento já envolvem o Sporting”; outro é “ser internado numa instituição psiquiátrica”.
Em relação a Álvaro Sobrinho, que presidiu ao BES Angola, ligado ao colapso do BES/GES, referiu que "era dos homens mais mal falados, por todos os motivos”. “Há muito tempo que a Holdimo deveria ter vendido a sua participação. Não é uma marca ideal para o nome e prestígio ao Sporting”, disparou Bruno Carvalho. Em entrevista à SIC Notícias, Álvaro Sobrinho insurgiu-se contra as referências do presidente, e sublinhou que a Holdimo foi “decisiva na restruturação financeira do Sporting, assim como o BCP e o BES”. Acusando Bruno de Carvalho de destruir a imagem da SAD, afirmou que “quem não vai continuar no Sporting é o Bruno de Carvalho”.
Este domingo, a agência Lusa noticiou uma nota através da qual membros do conselho fiscal e da assembleia geral da SAD dizem ter ponderado a demissão, mas que continuaram em defesa dos accionistas.
"Os deveres de garantir aos stakeholders as condições de exercício dos seus direitos, de controlo de legalidade e de defesa do investimento determinaram a opção de se manterem em funções e de exercerem os cargos até ao final dos mandatos", refere a nota citada pela Lusa.