Polícia Judiciária vai ter novo director

Luís Neves sucede a Almeida Rodrigues, que esteve dez anos consecutivos no cargo e sai por sua iniciativa.

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Luís Neves entrou para a Polícia Judiciária em 1995 André Kosters/Lusa

Luís Neves, até aqui dirigente da Unidade Nacional Contra Terrorismo da Polícia Judiciária, vai ser o novo director nacional desta polícia, anunciou o Ministério da Justiça nesta terça-feira.

O novo dirigente sucede a Almeida Rodrigues, que ocupou o cargo durante dez anos - o director que se manteve mais tempo no cargo - e sai a seu pedido. A decisão foi tomada há meses, segundo explicou o próprio ao PÚBLICO. "Era a altura certa para sair. Tão importante como entrar bem é sair bem", afirmou o actual director nacional, que diz abandonar o cargo com o sentido do dever cumprido. Almeida Rodrigues completa 60 anos em Agosto, deixando nessa altura a efectividade de funções. Pretende regressar a Coimbra, onde vive a família e, no final do ano, reúne condições para se reformar. 

Também de saída está o director nacional adjunto, Pedro do Carmo, que vai regressar ao Ministério Público, de onde é oriundo. Ainda não é conhecido o próximo número dois da Polícia Judiciária que será escolhido pelo novo director nacional. 

 “Considerando o largo tempo que desempenhou aquelas funções, muitas vezes com sacrifício para os seus legítimos interesses pessoais e da sua família, entendeu Almeida Rodrigues ter chegado o momento de deixar aquele cargo, pelo que solicitou a não renovação da sua comissão de serviço”, que termina a 15 de Junho, refere uma nota informativa da tutela.

Licenciado em Direito, Luís Neves chegou a fazer o estágio de advocacia, tendo entrado para a Polícia Judiciária em 1995. No final de 2003 já chefiava a secção central de combate ao terrorismo. Tem 52 anos e pela sua unidade passaram casos como o dos homens mais procurados na Argentina que estão a ser julgados em Portugal por assaltos a bancos, os gangues do Multibanco, o "rei Ghob" e o etarra de Óbidos. Do seu currículo publicado em Diário da República faz parte um curso do FBI que frequentou em Quantico, sobre liderança, ética e tomada de decisão. 

A sua escolha para o cargo é consensual dentro da Polícia Judiciária, mas espera-o uma "missão espinhosa", admite o presidente da Associação Sindical dos Funcionários de Investigação Criminal, Ricardo Valadas: inverter o desinvestimento a nível financeiro e de recursos humanos que tem atingido esta polícia. "A sua primeira medida devia ser forçar a abertura de um novo concurso de inspectores", preconiza o dirigente sindical, uma vez que os 120 profissionais que concorreram há quatro anos para a função continuam à espera de entrar, graças aos recursos dos candidatos preteridos, que atrasaram todo o processo. 

Outro inspector da Judiciária traça um cenário ainda mais negro: "Metade do parque automóvel está parado, porque não há dinheiro para o reparar - nalguns casos, nem para mudar o óleo aos carros. 80% do parque informático está obsoleto. Luís Neves terá uma tarefa dificílima: vai herdar uma polícia amordaçada pela falta de meios".

O novo director da Judiciária é, porém, um homem acostumado a enfrentar dificuldades. Casado e com um filho, "raramente goza férias e trabalha pelo menos 14 horas por dia, incluindo sábados e domingos", descreve um colega. Há uma década o seu nome chegou a ser falado para o cargo de director nacional, mas acabou por ser preterido a favor de Almeida Rodrigues. 

Oriundo de uma família do Fundão, passou parte da infância em Angola e chegou a jogar futebol profissional. Neste momento, um dos poucos hobbies que tem é a pesca: gosta de ir pescar com os amigos nos raros tempos livres que tem. Ricardo Valadas descreve-o como uma pessoa frontal, que defende a casa a que pertence. Que não hesitou quando foi preciso desencadear uma investigação a dois inspectores da Judiciária suspeitos de tráfico de droga, recorda outro colega. 

Num recente congresso de um sindicato do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, o dirigente da Judiciária deixou clara a sua posição sobre os processos de radicalização dos imigrantes: "A melhor prevenção (...) é a integração dessas pessoas, munidas de documentação e direitos. Saber quem são e acolhê-las de forma rápida, deixá-las ser felizes no nosso país. Sentindo-se integrados esses imigrantes sentem gratidão com o país e isso ajuda a evitar os radicalismos", defendeu. "Qualquer ser humano que seja estigmatizado pode ter problemas de integração que podem levar a outro tipo de atitudes", acrescentou. Na opinião de Luís Neves, "não há qualquer indício no sentido de que os imigrantes venham com tendências radicais dos países de origem".

No dia em que se sabe que irá deixar o cargo, Almeida Rodrigues faz questão de deixar um elogio rasgado aos profissionais da casa. "Tive a felicidade de ter um director nacional adjunto de grande erudição, lealdade e enorme sentido de justiça. Directores de grande qualidade e funcionários exemplares na entrega e dedicação", sublinha o ainda director nacional da PJ.

Por seu lado, Pedro do Carmo diz ter sido uma "honra servir a Justiça, servindo a PJ durante 14 anos", realçando o "privilégio" de o fazer ao lado de Almeida Rodrigues. "Sabendo quem vai suceder ao actual director nacional, só posso dizer que a PJ fica em boas mãos", remata.

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