Sindicatos dos médicos acusam Governo de não negociar e pedem intervenção do Parlamento

Num novo balanço sobre o impacto da greve, estruturas voltaram a mencionar que as cirurgias programadas e as consultas externas nos hospitais centrais e as consultas nos centros de saúde foram os serviços mais afectados.

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Nuno Ferreira Santos

As duas estruturas sindicais dos médicos que convocaram a greve de três dias que termina nesta quinta-feira acusaram o Governo de não negociar com os médicos e pediram que o Parlamento interceda no processo.

A posição foi assumida em conferência de imprensa em Lisboa pelo secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), Jorge Roque da Cunha, e pelo presidente da Federação Nacional dos Médicos (Fnam), João Proença.

Num novo balanço sobre o impacto da paralisação, que termina à meia-noite, ambas as estruturas voltaram a mencionar que as cirurgias programadas e as consultas externas nos hospitais centrais e as consultas nos centros de saúde foram os serviços mais afetados.

"Temos a compreensão dos utentes", sustentou, no entanto, Roque da Cunha quando confrontado com o facto de doentes terem ficado, devido à greve, sem consulta ou cirurgia que aguardavam há vários meses ou anos.

"É uma situação criada pelo Governo. [Os utentes] vão compreender que é para melhorar a vida deles no futuro", assinalou João Proença, questionando por que o Governo "não abre concursos" para médicos nos centros de saúde e nos hospitais.

O dirigente da Fnam disse que, decorrida a greve, não houve "nenhum sinal" por parte do Governo em negociar as reivindicações.

"É preciso mudar de atitude (...), o Parlamento obrigar o Governo a mudar de atitude", afirmou.

Antes, o secretário-geral do SIM, Jorge Roque da Cunha, já tinha acusado que "este Governo não negoceia com os médicos" e "não dá qualquer solução a coisas simples", mas, em contrapartida, paga 120 milhões de euros a empresas prestadoras de serviços.

Os médicos reclamam a redução do trabalho suplementar de 200 para 150 horas anuais, a diminuição progressiva até 12 horas semanais de trabalho na urgência e a redução gradual das listas de utentes dos médicos de família para 1500 utentes, quando actualmente são de cerca de 1900.

A revisão das carreiras médicas e respetivas grelhas salariais, o descongelamento da progressão da carreira e a criação de um estatuto profissional de desgaste rápido, de risco e penosidade acrescidos, com a diminuição da idade da reforma, também fazem parte das exigências.

Apesar de considerar que os médicos "têm razão" na "maior parte" das reivindicações, o ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, frisou na segunda-feira, na véspera do primeiro dia do protesto, que ao Governo cabe garantir a sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde "por mais 10, 15 ou 20 anos e em boas condições".

Fnam e SIM exigiram nesta quinta-feira uma negociação "a sério", com a presença do ministro das Finanças, Mário Centeno.