Greve dos médicos encerra blocos operatórios nos principais hospitais

Balanço feito às 13h dá conta de uma adesão a rondar os 90% nos blocos operatórios a nível nacional. Esta tarde, a partir das 15h médicos concentram-se em frente ao Ministério da Saúde.

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Rui Gaudêncio

Blocos operatórios dos principais hospitais do país encerrados e consultas externas canceladas é o primeiro balanço feito pelos sindicatos médicos à greve de três dias que arrancou nesta terça-feira.

Num balanço feito às 13h00, Guida da Ponte, da Federação Nacional dos Médicos (Fnam) dava conta de uma adesão à greve, a nível nacional, nos blocos operatórios, a rondar os 90%. "Em relação aos cuidados de saúde primários a adesão é de 85%. Notamos uma grande adesão por parte dos centros de saúde e unidades de saúde familiares (USF). Há bastantes USF onde é de 100%, por exemplo no centro do país. Nas consultas externas hospitalares é de cerca de 75% a nível nacional", adiantou ao PÚBLICO.

Durante a manhã, num primeiro balanço à porta das consultas externas no Hospital São José, em Lisboa, o secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), Jorge Paulo Roque da Cunha, disse que os primeiros dados iam no sentido do que os sindicatos previam: demonstravam "o grande descontentamento que existe entre os médicos".

Segundo Roque da Cunha, estão encerrados todos os blocos operatórios de Faro e Portimão, no Algarve, em São José e Santa Maria (Lisboa). No Hospital de São João e em Matosinhos, no Porto, está apenas um bloco a funcionar.

Já na região do Alentejo, "temos uma média de adesão à greve de 86%", disse à agência Lusa o secretário regional do Alentejo do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), Armindo Sousa Ribeiro. Segundo o também médico, a adesão à paralisação nos hospitais e centros de saúde do Alentejo está a provocar, sobretudo, o adiamento de consultas e cirurgias e situa-se nos 92% no litoral alentejano, 87% no distrito de Portalegre, 83% no distrito de Évora e nos 81% no distrito de Beja.

Cirurgias e consultas canceladas

No Hospital do Litoral Alentejano, em Santiago do Cacém, das três salas do bloco operatório só a de urgências funciona e várias cirurgias e consultas externas foram adiadas. Em Évora, só duas das cinco salas do bloco operatório estão a funcionar. O SIM estima que várias cirurgias e cerca de 80% das consultas externas marcadas deverão ser adiadas.

No hospital de Beja, só duas das cinco salas do bloco operatório estão a funcionar, uma para situações de urgência e outra para cirurgias programadas, disse Armindo Sousa Ribeiro, referindo que várias cirurgias e cerca de 70% das consultas externas marcadas deveriam ser adiadas. Já em Portalegre, duas das três salas do bloco operatório do hospital estão a funcionar, uma para situações de urgência e outra para cirurgias programadas.

Os médicos iniciaram esta terça-feira às 00h00 três dias de greve nacional, uma paralisação que os sindicatos consideram ser pela "defesa do Serviço Nacional de Saúde". Ao início da manhã, a Lusa esteve ainda no Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro, onde o cancelamento de consultas foi o efeito mais visível do protesto, embora outras consultas tenham também decorrido com normalidade. Luísa Viana, 15 anos, natural de Celeirós, concelho de Sabrosa, queixava-se: "Disseram-me que o médico não veio. Tinha teste e já não vou conseguir fazê-lo, se soubesse da greve tinha ido ao teste." Esperou mais de um ano para ter vaga, disse ainda, temia ter de esperar "mais um ano" por uma nova consulta.

Na Madeira, a adesão ao protesto situa-se em quase 70%, sendo de 100% no bloco operatório do Hospital Central do Funchal, que está a funcionar apenas com os serviços mínimos, indicou a Fnam.

O PÚBLICO contactou o Ministério da Saúde que disse que não irá fazer nenhum balanço da greve.

Concentração à frente do ministério

A partir das 15h00 inicia-se uma concentração de médicos em frente ao Ministério da Saúde, organizada pela Fnam. Segundo Guida da Ponte deslocaram-se para Lisboa um autocarro vinda da zona norte e outro da zona centro.

Durante a tarde estão previstas intervenções de representantes dos três sindicatos médicos que formam a Fnam, mas também de várias associações. Entre elas a dos médicos de família e das unidades de saúde familiares, duas organizações pela formação especializada e contra a existência de médicos indiferenciados e representantes dos clínicos de saúde pública.

À iniciativa juntam-se ainda a CGTP e duas associações de utentes: Litoral Alentejano e Marinha Grande.

A reivindicação essencial para a greve dos médicos é "a defesa do SNS" e o respeito pela dignidade da profissão, segundo os dois sindicatos que convocaram a paralisação.

Em termos concretos, os sindicatos querem uma redução do trabalho suplementar de 200 para 150 horas anuais, uma diminuição progressiva até 12 horas semanais de trabalho em urgência e uma diminuição gradual das listas de utentes dos médicos de família até 1500 utentes, quando actualmente são de cerca de 1900 doentes.

Entre os motivos da greve estão ainda a revisão das carreiras médicas e respectivas grelhas salariais, o descongelamento da progressão da carreira médica e a criação de um estatuto profissional de desgaste rápido e de risco e penosidade acrescidos, com a diminuição da idade da reforma.

Depois de duas greves nacionais em 2017, os médicos paralisam este ano pela primeira vez, com os sindicatos a considerar que o Governo tem sido intransigente e tem desperdiçado as oportunidades de diálogo com os sindicatos.