Partidos querem ouvir ex-comandante, mas vão pedir explicações ao ministro Administração Interna já hoje

PSD e CDS apresentaram requerimentos para ouvir António Paixão com urgência. Bloco e PCP vão viabilizar o pedido. Deputados querem saber se demissão pode comprometer combate aos fogos.

Foto
RUI GAUDÊNCIO

Embora queiram ouvir da boca do comandante nacional operacional (conac) demissionário, António Paixão, as razões para o seu pedido de demissão, os partidos prometem escalpelizar já o assunto na audição que o ministro da Administração Interna tinha marcada para a tarde desta terça-feira na Assembleia da República. Essa foi a promessa deixada por PSD, Bloco, CDS e PCP ao fim da manhã, no Parlamento.

O gabinete do ministro Eduardo Cabrita tentou remediar a crise ainda na noite de segunda-feira, quando se soube do pedido de demissão de António Paixão, designando de imediato para o lugar o coronel Duarte Costa, chefe do Estado-Maior do Comando das Forças Terrestres. António Paixão, que estava no cargo há apenas cinco meses, demitiu-se em desacordo com a política seguida pelo Governo e comunicou as suas razões ao presidente da ANPC, o general Mourato Gomes, na tarde de segunda-feira.

O social-democrata José Matos Correia criticou a forma “displicente” como o Governo tem tratado a questão da prevenção e combate aos incêndios e até o comentário do primeiro-ministro, que terá dito que espera que a transição do comando na ANPC seja “suave”. “Qual transição suave?”, ironizou o deputado. Depois da tragédia do ano passado, “o mínimo que se podia esperar de um governo responsável era um trabalho sério de preparação” da nova época que está prestes a começar dentro de poucas semanas, disse Matos Correia, que considerou “totalmente incompreensível” como se deixa a Protecção Civil chegar a um ponto destes.

O PSD quer “apurar até às últimas consequências” o que realmente se passou que levou à demissão de António Paixão. “Estamos fartos das justificações das razões pessoais que normalmente são usadas para justificar coisas que não se querem dizer.”

Tal como o PSD, também o CDS realçou o facto de este ser o quarto comandante nacional operacional em 16 meses. Telmo Correia anunciou mais um requerimento para ouvir António Paixão, argumentando que a lógica do comando e a da respectiva “estabilidade” são fundamentais para o combate aos incêndios. O centrista lembrou os sinais “preocupantes”: “Instabilidade nos comandos, meios aéreos que estão atrasados, não se conhece a lei orgânica da Protecção Civil, a grande aposta das equipas tem problemas de horários e o papel dos bombeiros não está clarificado.”

O bloquista Pedro Filipe Soares lembrou as promessas por cumprir do Governo nesta área: continuam a faltar aeronaves e os outros meios operacionais prometidos, a lei orgânica da Protecção Civil “tarda em ser apresentada”.

O deputado realçou ainda haver “muitos interesses instalados no sector” e disse que a sua bancada acompanha o pedido de esclarecimentos para se explicar esta demissão no período mais complicado de preparação do Verão.

“O Governo prometeu estar à altura no combate aos incêndios deste ano e que tinha aprendido com o que aconteceu em 2017”, recordou o deputado, para dizer que “é em nome dessa tranquilidade que o país exige e ao Governo se obriga” que o Bloco vai questionar Eduardo Cabrita esta terça-feira à tarde.

O mesmo vai fazer o PCP. Apesar de considerar importante ouvir as explicações do comandante demissionário, o deputado Jorge Machado prefere pôr ênfase na necessidade de resolver os problemas que essa saída causa na estrutura da Protecção Civil – que fica hierarquicamente mais debilitada – e sobretudo na estratégia de combate aos incêndios para este Verão que nesta altura já devia estar totalmente delineada.

“Vamos confrontar o ministro da Administração Interna com os atrasos que esta nomeação pode significar na preparação da época crítica e as suas consequências, e ainda as dificuldades do Estado para responder. [Esta substituição do comandante operacional nacional] pode significar insuficiências e atrasos na preparação do combate; queremos saber que medidas podem ser adoptadas [para acautelar o período mais crítico]”, especificou o comunista Jorge Machado.

Sugerir correcção
Comentar