Pela primeira vez, o palmarés do Indie é todo em português

O Brasil é o grande vencedor da 15.ª edição do IndieLisboa – Baronesa e Lembro Mais Dos Corvos ganham ex-aequo o grande prémio, O Processo é o favorito do público e Our Madness o melhor filme português

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Baronesa, documentário de Juliana Antunes DR
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Lembro Mais Dos Corvos, de Gustavo Vinagre DR
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Our Madness, de João Viana DR
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O Processo, documentário de Maria Augusta Ramos DR

É a primeira vez que acontece em 15 anos de IndieLisboa: um palmarés inteiramente falado em português (ou quase), com três filmes brasileiros a juntarem-se aos vencedores nacionais. No concurso internacional, em caso sem precedentes na história do festival, dois vencedores ex-aequo: o documentário de Juliana Antunes Baronesa, sobre o quotidiano feminino numa favela de Belo Horizonte, e a ficção híbrida de Gustavo Vinagre Lembro Mais dos Corvos, um confessional semi-encenado das experiências de vida da actriz trans Julia Katharine. Ambos os filmes partilharam não apenas o Grande Prémio como também o Prémio Especial do Júri. Pela primeira vez com um júri competitivo, a secção paralela Silvestre premiou o documentário de Maria Augusta Ramos sobre o impeachment de Dilma Rousseff, O Processo, que foi igualmente galardoado com o prémio do público, atribuído pelos espectadores que frequentaram o festival ao longo dos últimos dez dias.

No concurso nacional, o prémio principal foi para Our Madness, segunda longa de João Viana, antigo assistente de Paulo Rocha, que foi a Moçambique filmar a busca de uma mulher que escapa de um hospital psiquiátrico em busca da família que a guerra dispersou. André Gil Mata arrecadou o prémio de realização por A Árvore, elegia formalista ambientada na Bósnia-Herezegovina. A melhor curta nacional foi o documentário (ou ficção?) de Gonçalo Robalo Os Mortos, histórias de gente morta contadas para melhor agarrar a vida; a melhor curta internacional a animação Solar Walk, da húngara Réka Bucsi, e a melhor curta da paralela Silvestre o documentário do francês Clément Cogitore Braguino.

À imagem do que já acontecera em 2017, com a vitória de Viejo Calavera de Kiro Russo, este palmarés acaba por reforçar a importância contemporânea dos chamados “cinemas do real”, filmes nas fronteiras do documentário e/ou da ficção que desafiam as normas convencionais do cinema narrativo e procuram outros modos de falar do mundo em que vivemos. Os “cinemas do real” têm vindo ao longo dos últimos anos a ganhar importância na programação do Indie, quer a concurso quer nas secções paralelas, e esse peso reflecte-se na forte presença do documentário no palmarés 2018; mesmo as ficções premiadas têm uma componente importante de “contaminação” da ficção pela realidade.

Na produção portuguesa, Amor, Avenidas Novas de Duarte Coimbra, que estará na Semana da Crítica em Cannes, recebeu o prémio Novo Talento, e Russa, que João Salaviza e Ricardo Alves Junior realizaram para o programa Cultura em Expansão da Câmara Municipal do Porto, o prémio Árvore da Vida, atribuído pela Igreja Católica. Ao documentário de Rúben Gonçalves Infância, Adolescência, Juventude coube o prémio da secção Novíssimos, dedicada a cineastas estreantes em contexto escolar ou de autoprodução.

O júri da competição internacional de longas foi composto pelos realizadores Claire Simon e Pedro Pinho e pelo programador James Lattimer, e o júri da competição nacional (que atribui os prémios de melhor longa e curta portuguesas, Novo Talento e Novíssimos) pela realizadora Fabianny Deschamps, pela programadora Kim Yutani e pelo artista António Caldeira Pires. Este ano houve igualmente pela primeira vez um júri para a paralela Silvestre, formado pela realizadora Penny Lam, pela argumentista e música Mariana Ricardo e pelo realizador Rüdiger Suchsland.

Os premiados serão exibidos no cinema Ideal, em Lisboa, nas próximas segunda (7), terça (8) e quarta (9), às 18h e 22h. O IndieLisboa encerra oficialmente às 19h de domingo (6) com a ante-estreia do novo filme de Sérgio Tréfaut, Raiva, uma adaptação de Seara de Vento de Manuel de Fonseca com Isabel Ruth e Leonor Silveira.

Palmarés

Longas-metragens

Grande Prémio Cidade de Lisboa e Prémio Especial do Júri: ex-aequo Baronesa, de Juliana Antunes, e Lembro Mais dos Corvos, de Gustavo Vinagre

Melhor Longa Portuguesa: Our Madness, de João Viana

Melhor Realizador: André Gil Mata, por A Árvore

Prémio Silvestre: O Processo, de Maria Augusta Ramos

Prémio Indie Music: Matangi/Maya/M.I.A. de Steve Loveridge

Prémio Universidades: An Elephant Sitting Still, de Hu Bo

 

Curtas-metragens

Grande Prémio: Solar Walk, de Réka Bucsi

Prémio Silvestre: Braguino, de Clément Cogitore

Melhor Animação: Rabbit’s Blood, de Sarina Nihei

Melhor Documentário: La Bonne education, de Gu Yu

Melhor Ficção: Matria, de Álvaro Gago

Melhor Curta Portuguesa: Os Mortos, de Gonçalo Robalo

Prémio Novo Talento: Amor, Avenidas Novas, de Duarte Coimbra

Prémio Novíssimos: Infância, Adolescência, Juventude de Rúben Gonçalves

 

Prémio do Público: O Processo

Prémio do Público IndieJúnior: Professor Sapo, de Anna van der Heide

Prémio Amnistia Internacional: Waste N0.5 The Raft of the Medusa de Jan Ijäs

Prémio Árvore da Vida: Russa, de João Salaviza e Ricardo Alves Júnior

Prémio Escolas: Tremors, de Dawid Bodzak

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