Europeus aceitam impor sanções a mísseis iranianos para salvar acordo nuclear

Reino Unido, Alemanha e França parecem estar dispostos a assinar um "acordo suplementar", mas é difícil que o Irão aceite essa nova condição.

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O ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano diz que o país não negoceia o seu programa de mísseis LUSA/SERGEI CHIRIKOV

Quando falta apenas uma semana para que o Presidente norte-americano, Donald Trump, diga se vai voltar a aplicar sanções ao Irão, parece estar em marcha uma última tentativa para salvar o acordo sobre o programa nuclear iraniano. Segundo o jornal Financial Times, o Reino Unido, a Alemanha e França estarão dispostos a satisfazer uma das exigências dos Estados Unidos para que isso aconteça: ameaçar Teerão com sanções caso o regime decida desenvolver mísseis intercontinentais.

O acordo, assinado em 2015 pelos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU mais a Alemanha e a União Europeia, levou o Irão a travar de forma substancial o seu programa nuclear em troca do levantamento de grande parte das sanções internacionais.

Com a chegada de Donald Trump à Casa Branca, em Janeiro de 2017, os Estados Unidos passaram a questionar a eficácia do acordo assinado pela Administração Obama. Para o actual Presidente norte-americano, o documento abre as portas a que o Irão retome o seu programa nuclear por baixo do pano e tem um prazo de validade muito curto – termina dentro de 12 anos.

Para além de querer estender o acordo por muito mais tempo, Trump exige também garantias sobre a produção de mísseis pelo Irão, principalmente que o país não venha a fabricar mísseis intercontinentais e que os mísseis no seu arsenal tenham um alcance limitado a 300 quilómetros.

"O Irão não tem mísseis intercontinentais e já garantiu que não vai desenvolver esse tipo de mísseis. Mas nós queremos exigir-lhes um compromisso", disse ao Financial Times um responsável envolvido nestas negociações, citado sob anonimato. A ideia é preparar um "acordo suplementar" entre os Estados Unidos, o Reino Unido, a Alemanha e França para que o Irão seja punido com sanções se um dia quiser produzir mísseis intercontinentais.

Para além disso, a Casa Branca quer também impor limites ao alcance dos mísseis que já fazem parte do arsenal iraniano, o que é visto por alguns analistas como uma prova de que o Presidente Donald Trump está determinado a rasgar o acordo sobre o programa nuclear.

Rob Malley, um dos negociadores norte-americanos em 2015 e actualmente presidente da organização não-governamental International Crisis Group, resume a posição da Casa Branca desta forma: "O Presidente Trump parece ter proposto aos europeus uma falsa escolha. Ou põem fim ao acordo comigo, ou eu acabarei com ele sozinho."

A questão dos mísseis ficou de fora do acordo de 2015 porque não seria possível negociar com o Irão pondo em causa algo que o país considera ser parte essencial do seu direito à autodefesa – os mísseis iranianos de maior alcance, o Khorramshahr e o Sejjil, podem viajar até 2000 km.

"Nem o alcance, nem o desempenho dos nossos mísseis é maior ou mais vasto do que os dos nossos vizinhos. Se nos pedissem que abandonássemos os nossos meios de autodefesa, isso seria uma violação do nosso direito a essa autodefesa. Não vamos fazer concessões", afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, Mohammad Javad Zarif, numa entrevista ao Financial Times.

Perante a dimensão das exigências norte-americanas, vários analistas acreditam que o Presidente Donald Trump vai mesmo autorizar que as sanções contra o Irão sejam retomadas, numa decisão que tem de ser anunciada até 12 de Maio. E, se isso acontecer, é todo o acordo sobre o programa nuclear iraniano que fica em causa – mesmo que todos os outros signatários queiram manter-se vinculados, as sanções norte-americanas implicariam penalizações a quem as violasse; e isso agravaria as relações entre os EUA e aliados como o Reino Unido, a Alemanha e França.

"Não são tópicos de negociação, são desculpas para que os EUA se desvinculem do cumprimento do acordo", escreveu no site da Reuters Peter Van Buren, um antigo diplomata que esteve 24 anos no Departamento de Estado norte-americano e que escreveu um livro crítico da intervenção norte-americana no Iraque.

Num texto em que alerta para as possíveis reacções do Irão ao fim do acordo sobre o programa nuclear, através da sua influência em países como o Iraque, o Iémen, o Líbano ou a Síria, Peter Van Buren deixa um aviso: "Os EUA estão a brincar com o fogo se abandonarem o acordo no dia 12 de Maio."

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