Células das plantas comunicam com proteínas semelhantes às dos animais

Descoberta é a capa da revista Science.

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Arabidopsis thaliana, a planta usada nesta investigação Eric Belfield

Uma equipa internacional de cientistas, incluindo o português José Feijó, descobriu que as células das plantas comunicam usando proteínas que existem nas células cerebrais dos animais mas que desempenham funções distintas.

O estudo é tema de capa da edição impressa desta sexta-feira da revista Science e foi coordenado por José Feijó, investigador da Universidade de Maryland (Estados Unidos), que começou a investigação quando ainda trabalhava no Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC), em Oeiras.

Em declarações à agência Lusa, o investigador disse que o estudo permite compreender melhor a defesa das plantas contra infecções, a sua reprodução e a sua resposta ao stress ambiental, que poderá conduzir a “melhores estratégias de adaptação às alterações climáticas”.

Para este trabalho, os cientistas usaram células de pólen da Arabidopsis thaliana, uma pequena planta herbácea com flor nativa da Europa e da Ásia habitualmente utilizada nos laboratórios como modelo para estudos de biologia de plantas.

A equipa de investigação descobriu que os receptores de glutamato, que são proteínas, “têm um papel essencial na comunicação nas células das plantas”, ao regularem os “níveis de iões de cálcio que existem dentro da célula”, refere por sua vez o IGC em comunicado.

Os iões de cálcio são fundamentais para “a resposta a stress ambiental, como o provocado por alterações climáticas, e para a imunidade a infecções causadas por insectos ou fungos”, adianta o IGC.

Os receptores de glutamato existem nos animais, mas, de acordo com os cientistas, desempenham uma função diferente dos das plantas, apesar de, em ambos os organismos, estas proteínas deixarem entrar cálcio para dentro da célula e, deste modo, permitirem a transmissão de “informação entre células”, segundo José Feijó.

Nos animais, os receptores interferem apenas na comunicação entre neurónios (células cerebrais), ajudando na transmissão dos sinais nervosos de um neurónio para outro. “Parte da sua função consiste em permitir que o cálcio entre dentro dos neurónios para que o sinal nervoso seja comunicado”, precisa o IGC, acrescentando que, se os receptores de glutamato não funcionarem correctamente, podem surgir problemas cognitivos ou neurodegenerativos.

Nas plantas, que não têm sistema nervoso, tais receptores, sinalizados em vários compartimentos da célula e cuja actividade é regulada por outras proteínas, têm um papel ao nível da reprodução, do crescimento e da imunidade contra doenças e pragas, além de permitir a propagação de estímulos eléctricos. “Quase todas as plantas têm mais tipos de receptores de glutamato do que todo o nosso sistema nervoso, e esse facto sugere que sejam importantes para muitas funções”, resume José Feijó.