A segunda temporada de Por 13 Razões será um conjunto de polaróides sobre abuso sexual
Série regressa ao Netflix no próximo dia 18 para continuar a história de Hannah e de um liceu em que o suicídio foi apenas a ponta do icebergue. Episódios serão acompanhados por avisos e informação de apoio para os jovens espectadores.
A série Por 13 Razões (13 Reasons Why, no título original), o vício televisivo de contornos dramáticos em torno de uma história de suicídio adolescente que aterrou em Março de 2017 em todo o mundo, vai continuar este mês no Netflix. E tratará não só da forma como o seu grupo de adolescentes lida com o suicídio, mas também do abuso sexual e das armas – tudo num contexto #MeToo e pós-Parkland, embora tenha sido escrita bem antes do caso Weinstein e do tiroteio em mais um liceu norte-americano. Os novos episódios não partirão de um conjunto de gravações, como na primeira temporada, mas, a avaliar pelo que indica o teaser e confirma o Netflix, terão polaróides como novas pistas (igualmente retro) para “um segredo repugnante e uma conspiração para o encobrir”. O tema será o “abuso sexual repetido”.
Na segunda-feira, a plataforma de streaming que levou a adaptação do livro homónimo de Jay Asher à “televisão” revelou um teaser da segunda temporada de Por 13 Razões, anunciando a sua data de estreia para 18 de Maio. Os Depeche Mode, com I feel you, servem de banda-sonora a este primeiro aviso de que “as cassetes foram só o princípio”. Extrapolando o livro, em que as 13 gravações deixadas por Hannah explicam o seu suicídio e conduzem a um conjunto de revelações sobre todo o seu grupo de amigos e o liceu que frequentam, a série vai agora abordar outros temas.
A abordagem sem rodeios ao tema do suicídio adolescente gerou muitas críticas à série, por se temer que o encorajasse – filmando-o directamente e criando uma narrativa viciante à sua volta – e que influenciasse negativamente os seus jovens espectadores. Por 13 Razões acabaria por conquistar um público transversal, protegendo-se das alegações de que poderia ser um conteúdo impróprio com episódios especiais de acompanhamento e discussão. Um trabalho que agora continua no site http://13reasonswhy.info/, em que estão disponíveis os contactos de linhas e associações de apoio e aconselhamento de cada país – em Portugal, é o caso da SOS Voz Amiga.
Esse trabalho que ultrapassa a televisão incluiu também a encomenda de um estudo ao Center on Media and Human Development da Universidade Northwestern, cujas conclusões, divulgadas a 21 de Março, demonstraram que 71% dos adolescentes e jovens adultos que viram a série se identificaram com ela e que muitos deles mudaram as suas atitudes perante colegas ou amigos (muitas das “13 razões” são as falhas na confiança e no apoio daqueles que estão mais próximos das personagens). Na sequência das conclusões desse estudo, cada episódio da segunda temporada vai ter um dos actores a dar informações sobre como obter apoio, na vida real, para os problemas abordados. Vão também continuar a existir os episódios Beyond the Reasons (Para Além das Razões) para discutir os temas “difíceis”, como descreve o vice-presidente de programação do Netflix, Brian Wright, em comunicado. Todas estas iniciativas respondem aos pedidos dos pais que responderam ao estudo da Northwestern.
Da realidade à ficção
Hannah, Clay, Jessica ou Tyler, os seus pais e orientadores escolares, acompanhados por novas personagens, voltam então no próximo dia 18 com novos temas e novas vozes para explorar e velhas histórias para resolver ou processar – a violação, a culpa, o isolamento e as armas nas mãos de um adolescente. O tema da violação e do abuso sexual será abordado também na perspectiva do papel “das instituições”, disse o criador e showrunner da série, Brian Yorkey, numa entrevista à Hollywood Reporter. “Quando começámos a desenvolver o tema, discutíamos se era realista pensar que o abuso sexual em série pudesse ser mantido em segredo por tanta gente durante tanto tempo. Durante o Verão, vimos o desenrolar dos acontecimentos na nossa cultura que confirmaram que sim, infelizmente, é possível que um abuso sexual grave em alto nível ser mantido em segredo por muitas, muitas pessoas, e com as instituições como cúmplices”, disse Yorkey àquela revista especializada.
O tema do “abuso sexual em série”, ou repetido, vai então estar no centro dos 13 episódios, e o showrunner espera que o tema “entre na conversa em torno da série, especialmente porque é uma coisa com que as raparigas lidam, na nossa cultura, desde muito jovens, e é algo que tem de mudar”. As filmagens terminaram em Dezembro, já com o movimento MeToo a pleno vapor, e a coincidência entre a realidade e a ficção é “comovente”, diz Yorkey.
A rodagem concluiu-se também antes do tiroteio de Parkland, na sequência do qual Emma Gonzalez e os seus colegas sobreviventes tentaram sensibilizar as autoridades norte-americanas para o problema do controlo do acesso às armas nos EUA. Personagens como Tyler, “um miúdo que pode estar em risco de se tornar um atirador numa escola”, já vêm da primeira temporada, lembrou Brian Yorkey à Hollywood Reporter, frisando que à medida que os responsáveis pela série viam “o mundo a desenrolar-se” confirmaram que “é importante que estas histórias sejam contadas”.