TGV: o “tabu” que ressuscita sempre e volta a morrer por falta de dinheiro

O tema do TGV ganhou ontem um inesperado destaque depois de uma fonte comunitária ter anunciado uma ligação a Évora. O Governo desmentiu de imediato e a Comissão Europeia, oficialmente, também.

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António Costa sublinhou recentemente em Espanha que alta velocidade é um tema tabu. LUSA/TIAGO PETINGA

Mesmo com fundos comunitários abundantes para as linhas de alta velocidade, Portugal não ressuscita, para já, o TGV porque não tem dinheiro para suportar a comparticipação nacional do projecto.

É este o tabu a que se referia António Costa na entrevista que em Fevereiro deu ao jornal espanhol ABC. O primeiro-ministro dizia que “a alta velocidade é um tema tabu na política portuguesa e vai sê-lo por muito tempo”. Na verdade quereria dizer que enquanto não houver um equilíbrio nas contas públicas, não haverá dinheiro para a alta velocidade.

Este semi-abandono do projecto, que esteve quase a materializar-se no troço Poceirão - Caia durante o consulado de José Sócrates, não foi indiferente para Bruxelas, que preferia ver completado este missing link (ligação em falta) que já tinha sido anunciado tantas vezes e que constava (e ainda consta) nos mapas das redes transeuropeias.

Isto ajuda a explicar por que motivo esta quinta-feira o projecto do TGV foi inesperadamente ressuscitado. Sempre que se fala na ligação ferroviária Elvas - Badajoz que vai ser construída para transporte de mercadorias e que ocupa o mesmo corredor que esteve previsto para a alta velocidade, há alguns políticos e responsáveis europeus que vêem ali o despontar do TGV entre Lisboa e Madrid.

Por outro lado, Portugal nunca assumiu claramente que desistia do projecto. Depois de Sócrates, Passos Coelho limitou-se a dizer que o projecto ficaria suspenso e o seu sucessor, António Costa, também não o matou. Por isso, o TGV “ressuscita” tantas vezes para os lados do Alto Alentejo.

Em Bruxelas, porém, seria visto com bons olhos um maior empenhamento do Estado português no reatar deste projecto. Um interesse luso na alta velocidade serviria para valorizar o próprio programa Connecting Europe Facility (CEF) que estaria disponível para financiar o projecto.

Em Portugal, porém, a opção foi cuidar das linhas que ainda existem na rede ferroviária e investir em novas infra-estruturas vocacionadas para o transporte de mercadorias, servindo as empresas e a actividade económica. Daí que o actual executivo tenha optado por “comprar” o PETI 3+, programa de investimentos  que já vinha do governo anterior.

Se a obra do TGV for novamente posta em cima da mesa, pelo menos há trabalho já feito. A linha de mercadorias entre Évora e Elvas fica no mesmo corredor onde esteve prevista a linha de alta velocidade. Há trabalho que já está feito e não será necessário começar do zero.

Mas fontes ligadas ao sector defendem que, depois deste período de pousio, o TGV merece uma nova reflexão e um debate a começar do zero. E isso passa por recuperar o “T deitado”, a origem do projecto da alta velocidade, a solução minimalista, mais barata e mais nacionalista: uma linha vertical Lisboa-Porto a partir da qual bifurcava uma linha horizontal para Madrid.

“Talvez um dia”

O TGV regressou ao radar esta quinta-feira, num encontro com jornalistas, à margem da conferência sobre transportes, na Eslovénia, quando fonte europeia, citada pela Lusa, precisou que Bruxelas deveria anunciar em breves, através da rede social Twitter, os passos e as fases do calendário para a ligação em “comboio de alta velocidade” entre Évora e Mérida.

O ministro do Planeamento e Infraestruturas, Pedro Marques, esclareceria, poucos minutos depois, que Bruxelas decidiu sobre uma linha “de alto desempenho para mercadorias” e não haverá qualquer investimento actual em comboio de alta velocidade para passageiros.

Este desencontro surge na sequência da apresentação de um esboço da Comissão Europeia do futuro troço ferroviário entre Évora e Mérida, que faz menção ao “importante elo em falta na ligação ferroviária entre Lisboa e Madrid”. Questionada pela Lusa sobre a inscrição da frase segundo a qual a “secção transfronteiriça tratará (do inglês will adress) um importante elo em falta na conexão de alta velocidade ferroviária entre Lisboa e Madrid”, fonte comunitária garantiu que o cenário em Portugal é apenas “uma visão, uma orientação”.

“Talvez um dia”, respondeu a mesma fonte à pergunta sobre se alta velocidade ferroviária chegará a Portugal, acrescentando que outras questões a entrar na equação são a necessidade de financiamento elevado e avaliação ambiental. Com Lusa

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