Exercícios de composição

Uma das peças mais fortes da exposição de Sara Chang Yan na Galeria Madragoa é a instalação Andar subtil sinal onde a sala principal está coberta de terra a qual precisamos pisar e percorrer.

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Instalação Um plano tangível e infinito de Sara Chang Yan dr
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Andar subtil sinal 2018 , de Sara Chang Yan dr

O trabalho de Sara Chang Yan (n. Lisboa, 1982) reflecte uma compreensão do gesto artístico já não como pertencendo e estando enformado por princípios disciplinares, mas a partir de energias, movimentos e intenções que fazem uso de uma multiplicidade intensa de recursos. Ou seja, se por um lado encontramos no trabalho desta artista a prática do desenho, da escultura, do vídeo, por outro lado, a sua obra usa indistintamente todas essas disciplinas como recursos formais, materiais e conceptuais para construir uma posição artística singular. Portanto, as suas propostas não se caracterizam por qualquer tipo de virtuosismo técnico e exímio numa linguagem artística específica, mas pela capacidade em criar situações nas quais o lugar da obra de arte, a sua matéria e forma, e a posição do espectador são alterados e trabalhados.

É preciso acrescentar que os trabalhos que desenvolve não devem ser entendidos como tendo como seu primeiro objectivo serem uma crítica ao mundo da arte, às suas instituições e protocolos de exposição, mas estes aspectos são efeitos críticos e são uma consequência do lugar onde localiza e do modo como constrói as suas obras. A unir os diferentes elementos que conjuga e que compõem as suas obras está uma forte preocupação com os movimentos humanos mais comuns e por vezes menos expressivos: andar, agarrar, mover, deslocar, compor. É como se as suas obras fossem, sobretudo, agentes de provocação de movimento e acção. Nelas, o espectador tem de se mover e de agir, caso contrário a obra fica por fazer e a experiência por completar. E é disto que trata a sua exposição Um Plano Tangível e Infinito.

Uma das peças mais fortes da exposição na Galeria Madragoa é a instalação Andar Subtil Sinal: a sala principal coberta de terra a qual precisamos pisar e percorrer, impõe um cheiro, suja os sapatos e toca no nosso corpo. A primeira consequência destas presenças é a transformação do espaço expositivo em paisagem, numa espécie de campo que se percorre e por onde se passeia. Uma paisagem com uma geometria irregular que é intensificada pelos sons. Estes funcionam como sinais inscritos na paisagem e que seguimos como se anunciassem um caminho: curtas gravações do tocar de guitarra, o estalar de dedos, ruídos diários, sem qualquer outro contexto que o da experiência estética da obra de Yan. Sons que se juntam ao corpo que percorre o espaço e obrigam a entrar numa espécie de inesperada coreografia interna e externa. Trata-se de uma dupla actuação: a obra actua no espectador e o espectador actua na obra através do movimento do seu corpo.

Para além dos sons que se vão ajustando à nossa passagem, compondo uma verdadeira geografia virtual e imaterial, há um desenho suspenso no centro do espaço o qual introduz nesta experiência a questão do horizonte e provoca o jogo entre horizontalidade e verticalidade ou entre tangibilidade e infinitude, que o título tão explicita. Trata-se não só de construir múltiplos pontos de vista mas igualmente criar variadas posições para o próprio objecto-desenho.

Este objecto-desenho liga o piso inferior ao piso superior, onde um conjunto de obras pede para ser movido, alterado, virado do avesso. A proposta da artista é unicamente uma possibilidade e o seu desafio — a ser entendido enquanto provocação estética — é que cada um encontre novas possibilidades de conjugação e de relação. É como se estas obras fossem exercícios de composição, os quais implicam tanto o corpo como a inteligência sensível de cada um, ao exigirem a cada indivíduo que encontre uma forma possível para a arte.

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