Utilizadores de PrEP compram genérico online vindo da Índia

Antes de estar disponível no SNS, já se comprava online uma versão do genérico do medicamento indicado para a profilaxia pré-exposição (PrEP). Infarmed avisa que estão comprometidas a "segurança, a qualidade e a eficácia" dos medicamentos.

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O genérico é produzido na Índia pela Cipla. Sebastião Almeida
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A versão original do medicamento, o Truvada, é produzida pela farmacêutica Gilead. Sebastião Almeida

O acesso ao medicamento que contém emtricitabina e tenofovir (por enquanto só o Truvada, da farmacêutica Gilead) como estratégia de prevenção contra o VIH através do Serviço Nacional de Saúde (SNS) é recente. Até há pouco tempo, a única alternativa para quem queria fazer a profilaxia pré-exposição (PrEP), era comprar online a versão genérica do medicamento, produzido por uma empresa indiana, a Cipla, que não está disponível em Portugal. Apesar do programa de acesso precoce ao Truvada, há quem admita continuar a adquirir o genérico na Internet até que a profilaxia seja disponibilizada na comunidade.

O caminho percorrido por estes medicamentos é atribulado. Em Portugal, quem toma o genérico recorre a sites que vendem o medicamento. Após a compra, os comprimidos são enviados para uma morada no Reino Unido, onde esta operação é permitida, e só depois de chegarem a território britânico é que as embalagens são enviadas para Portugal. E há sempre o risco de ficarem retidas na alfândega.

Cada embalagem, suficiente para um mês se a toma for feita em regime diário, custa cerca de 44 euros (55,50 dólares), segundo o site All Day Chemist  uma farmácia online a que os utilizadores de PrEP recorrem. Com os portes de envio, o preço final rondará os 60 euros, diz quem compra.

Perigos da Net

Segundo o Infarmed, comprar medicamentos ilegais ou falsificados através da Internet “não tem implicações legais”. Mas é perigoso para a saúde. A Autoridade Nacional do Medicamento reforça que “esta opção de aquisição de medicamentos poderá trazer graves problemas que podem inclusive não ser reversíveis”. Nestes casos, "não estão garantidas condições de segurança, qualidade e eficácia como os que se encontram no circuito legal".

O Infarmed afirma que quanto aos medicamentos interceptados pela Autoridade Tributária e Aduaneira (AT), não há registo de um "volume excepcional" de medicamentos a entrar em Portugal com a substância activa do Truvada comparativamente a outros produtos.

Para Isabel Aldir, directora do Programa Nacional para a Infecção VIH/sida e Tuberculose, os problemas podem surgir em vários planos. Por um lado, “não é possível garantir que o medicamento [que se recebe] é aquele que se encomendou” ou que vem em boas condições. Quando a toma é feita sem acompanhamento médico (ou com pouco), há o risco de que alguém que esteja infectado continue a fazer PrEP — quando essa não é a medicação adequada para um seropositivo — e desenvolva resistências ao medicamento. Além disso, a toma obriga à monitorização constante, o que passa pela realização de testes ao VIH e a outras infecções sexualmente transmissíveis, bem como pela avaliação de potenciais efeitos secundários “de três em três meses, no máximo”. 

Nos últimos anos, criou-se uma rede informal que partilha informações sobre o tema. Há inclusive um site, cuja gestão está a cargo de Bruno Maia, um médico e activista que também utiliza PrEP, onde se detalha o passo-a-passo para a compra online e se dão informações sobre como tomar a medicação. Algumas destas pessoas são acompanhadas no Checkpoint Lx.

Luís Mendão, presidente do Grupo de Activistas em Tratamento (GAT), diz que, porque a comunidade se foi organizando e avaliando se estes sites são fidedignos, os riscos que se correm serão “muito poucos”.

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