Nuno da Câmara Pereira canta a epopeia marítima, em disco e ao vivo
Nuno da Câmara Pereira celebra num disco Belmonte, Cabral e o Brasil. E apresenta-o esta sexta-feira no Coliseu de Lisboa, às 21h30, com convidados.
Foi em Belmonte que nasceu Pedro Álvares Cabral (1467-1520), navegador indelevelmente ligado à história do Brasil. Devido a esse elo histórico, o fadista Nuno da Câmara Pereira baptizou o seu mais recente disco como Belmonte EmCantos Mil e vai apresentá-lo ao vivo esta sexta-feira, 20 de Abril, às 21h30, no Coliseu de Lisboa, onde se estreou há 40 anos.
Porquê? “Primeiro, há a matriz da minha família. Eu sou Nuno Cabral da Câmara Pereira e a geração do meu pai e a minha foram as primeiras a não conviver com Belmonte [Nuno nasceu em Lisboa há 66 anos, em 19 de Junho de 1951]. Mas voltei agora lá e adquiri um pequeno promontório sobre a montanha.” Comprou-o a uma família judaica, das que estão hoje a instalar-se em Israel. “Se os judeus estiveram 500 anos acantonados em Belmonte devem-no aos Cabrais. E agora é pela mão dos judeus que um Cabral volta a Belmonte!”
Devido a essa matriz familiar, Nuno da Câmara Pereira tem ido várias vezes ao Brasil, sobretudo desde os 500 anos dos descobrimentos, para falar do seu antepassado. Mas já antes transpusera para fado (no disco Mar Português, de 1986, distinguido com dupla platina) uma canção de Roberto Carlos, Meu querido, meu velho, meu amigo. “Na altura foi muito criticado, mas hoje não é mais do que um fado versículo, de rima quebrada.”
E toda a sua discografia, diz, “está salpicada de música que nos chega do Brasil.” E é nessa linha que ele dedica o seu mais recente disco à epopeia trágico-marítima. Porque já teve discos com nome de Lusitânia (2009), Atlântico (1992), A Terra, o Mar e o Céu (1987) ou Sonho Menino (1983). “E em todos a epopeia marítima, a saga portuguesa no mundo, esteve presente. Por isso mesmo é que Pero Vaz de Caminha [1450-1500] se referiu não ao descobrimento mas ao achamento do Brasil. E a grande epopeia começa em Belmonte.”
De Belmonte à Bahia
No disco estão presentes vários sentimentos: “O perdão, o amor, a saudade, a morte, a glória, a fé. E tenho três poemas dedicados a cidades: um a Belmonte, que dá o nome ao disco, EmCantos Mil, palavra que pode ser lida em 3D, pelos cantos (do mundo), pelos encantos e pelos cânticos; outro a Coimbra, de onde veio toda a capacidade científica de cosmógrafos, geólogos, tudo isso; e outro a Setúbal, porque foi o sítio onde foi ratificado, no Convento de Jesus, o Tratado de Tordesilhas [assinado com a Coroa de Castela]”.
E há Salvador da Bahia, “a costa do descobrimento, onde se dá o grande encontro destas duas civilizações, europeia e indígena, autóctone, brasileira.” E, no disco, onde todos os temas que escreveu têm música do brasileiro Luiz Caldas, Nuno canta dois baianos: Caetano Veloso (Os argonautas) e Dorival Caymmi (É doce morrer do mar e Saudade da Bahia).
Nuno da Câmara Pereira completou 40 anos de carreira em 2017: “Conto o meu primeiro dia de profissão no momento em que pisei o palco do Coliseu dos Recreios, em 1977. Não conto no momento em que fui à tasca do Ti Alberto cantar, que é o que se faz hoje em dia.” E é ao palco desse mesmo Coliseu que volta agora, com Belmonte EmCantos Mil. Com ele estarão Custódio Castelo, Fernando Silva (guitarra portuguesa), Carlos Garcia (viola), João Triska (viola caipira), Fernando Calado (baixo), Tiago Pereira (percussão) e José Liaça (teclas), além de quatro convidados: os fadistas Maria João Quadros, Artur Batalha e Mico da Câmara Pereira (seu irmão e afilhado) e a Orquestra da Escola de música de Belmonte.