Jupiter: a receita de uma revolução musical

Depois do sucesso de Hôtel Univers, o álbum que o afirmou no circuito da world music em 2013, Jupiter continua o seu trabalho de expansão do bofenia rock em Kin Sonic – “o novo som de Kin(shasa)”, traduz.

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Jupiter Cristiano Barbosa / AME

Filho de um diplomata congolês, Jupiter Bokondji cresceu na Alemanha, enchendo os ouvidos com discos de James Brown, Jackson 5, ABBA ou Boney M. Só no final da adolescência, nos anos 80, é que Jupiter regressou a Kinshasa e percebeu que a música do seu país se tornara altamente dependente da rumba – o que lhe pareceu um absurdo, num país com centenas de etnias e um património rítmico quase interminável. Foi esse o caminho que Jupiter seguiu, investigando a música tradicional e trabalhando sobre esse património para construir uma nova sonoridade a que chamou “bofenia rock”.

À banda que criou para levar a cabo esse desígnio chamou Okwess International. Okwess significa algo como “alimento, refeição”. “E a música que fazemos é como uma refeição que tem de ser preparada e carregada numa boa marmita, porque vamos servir toda a gente – aqui não há fronteiras, não há raça, não há etnias”, diz ao PÚBLICO. “E o bofenia rock está sempre a evoluir, porque queremos juntar mais ingredientes, mais sonoridades.”

A visão que Jupiter tinha para revolucionar a música da República Democrática do Congo impôs-se com uma tal intensidade que, em 2003, ano em que a guerra civil rebentou no país, enquanto os membros dos Okwess fugiram para o exílio, o percussionista e cantor ficou em Kinshasa, convencido de que não podia abandonar a sua missão. E continua a não poder, garante. “É impossível de terminar e temos de abrir a porta para as gerações futuras continuarem a pesquisa da música tradicional.”

Depois do sucesso de Hôtel Univers, o álbum que o afirmou no circuito da world music em 2013, Jupiter continua o seu trabalho de expansão do bofenia rock em Kin Sonic – “o novo som de Kin(shasa)”, traduz –, álbum em que conta com participações de Damon Albarn (Blur), Warren Ellis (Nick Cave and the Bad Seeds) e uma capa da autoria de Robert del Naja (Massive Attack). Mas chegar aqui foi um trabalho de persistência – os congoleses não compreenderam logo que revolução pretendia operar na música do país. Hoje, confessa com evidente satisfação, é procurado por jovens que lhe perguntam como misturar a música tradicional e a música moderna. E ele explica. Como se lhes passasse para as mãos uma receita de cozinha, na esperança de que as novas gerações não deixem secar a riqueza de fontes da música congolesa.

O Público viajou a convite do AME e do Kriol Jazz

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