Trump forçado a recuar depois de demasiados disparos no Twitter

Rússia será avisada de qualquer intervenção. Maior preocupação do chefe do Pentágono é “evitar uma escalada incontrolável”.

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O contratorpedeiro USS Donald Cooké está estacionado no Mediterrâneo Reuters

“Preparem-se”, os “mísseis vão a caminho”, mas “pode ser muito em breve ou nem por isso”. Retirando as descrições de mísseis, “lindos, novos e ‘inteligentes’” e o termo “animal” com que agora se refere a Bashar al-Assad, este podia ser um resumo da actividade dos últimos dias de Donald Trump na sua página de Twitter.

Já se sabe que o Presidente dos Estados Unidos é impulsivo e usa esta rede social de forma pouco ortodoxa. Desta vez exagerou. O “tiroteio de tweets sobre a Síria, a Rússia e a China desta semana instaura um novo padrão para posições contraditórias e inconsistentes na abordagem de Trump à guerra, ao comércio e às relações com os seus adversários”, escreve o jornal The New York Times.

Confrontado com imagens de crianças mortas e a asfixiar, no domingo, Trump reagiu de imediato, prometendo que “o animal Assad” e os seus aliados pagariam “um preço muito alto”. Entretanto, chegou a falar em prazos de “24 a 48 horas” para tomar uma decisão, antes de avisar que os mísseis estavam “a caminho”.

Independentemente da responsabilidade de Assad no ataque – tudo indica, com armas químicas – que matou dezenas de civis em Douma, nos arredores de Damasco, ainda ninguém parece saber quais são os objectivos de uma eventual resposta militar. Não ajuda que Trump tenha dito há pouco tempo que estava pronto para acabar com o esforço militar dos EUA na Síria. Para além disso, se a ideia é contar com aliados, convém ter noção dos seus constrangimentos: se Emmanuel Macron está pronto a avançar, o Governo de Theresa May ainda delibera.

E se o Presidente americano quer mais do que ordenar alguns disparos inconsequentes é melhor ter a certeza que o Pentágono está pronto. Quarta-feira, o seu secretário da Defesa disse que tinha algumas alternativas para o Presidente. Já nesta quinta-feira, James Mattis sentiu a necessidade de acalmar os ânimos, afirmando que “ainda continua a busca de provas” do ataque e que a sua “maior preocupação” ao planear uma resposta é “evitar uma escalada incontrolável”.

Trump antecipou-se e muito, mesmo porque as suas forças não estão prontas para o tipo de ataque que deverá ser decidido – disparo de mísseis cruzeiro a partir de navios, evitando assim o sistema de defesa antimíssil instalado pela Rússia na Síria. Neste momento, não há porta-aviões americanos no Mediterrâneo, embora lá se encontre o contratorpedeiro USS Donald Cook – o porta-aviões mais próximo e a caminho, o USS Harry S. Truman, só chegará à região no início de Maio.

“Em termos tácticos, os EUA não estão preparados para apoiar a linguagem belicosa do seu Presidente com poder de fogo”, escreve Peter Beaumont no jornal britânico The Guardian. Assad já aproveitou estes dias para pôr a salvo sistemas de armas e aviões, ou seja, parte dos potenciais alvos.

Ao mesmo tempo, Trump mostrou-se especialmente duro com a Rússia de Vladimir Putin nos seus tweets, chegando a descrever a relação entre Washington e Moscovo como “pior do que durante a Guerra Fria”. Na verdade, o Presidente referia-se à investigação sobre a possível conspiração da sua campanha com responsáveis russos para prejudicar a adversária, Hillary Clinton.

Em relação à Síria, as duas capitais continuam em diálogo (a linha criada para “refrear situações de conflito” funciona) e os responsáveis russos em contacto com o Pentágono esperam receber as coordenadas de qualquer ataque antes de este ser lançado. Como confirmou aos jornalistas o porta-voz do Kremlin: “A linha existe e está activa. Geralmente, é usada pelos dois lados”.

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