O animal mais comprido do mundo tem uma toxina superpoderosa
Uma equipa internacional de cientistas descobriu que o verme Lineus longissimus tem uma toxina que, no futuro, poderá contribuir para o desenvolvimento de novos insecticidas.
O verme Lineus longissimus já tinha o título de animal mais comprido do mundo. E agora uma equipa de cientistas da Suécia, Bélgica e Austrália acaba de encontrar outra particularidade nesta espécie: o seu muco tem uma toxina que pode paralisar certas espécies de insectos e matar caranguejos e baratas. A análise desta toxina superpoderosa foi publicada na revista Scientific Reports e os cientistas dizem que poderá vir a ser útil no desenvolvimento de novos insecticidas.
Não é em vão que lhe chamam o animal mais comprido do mundo, uma vez que alguns indivíduos da espécie Lineus longissimus atingem 55 metros de comprimento. E pode ser perigoso para algumas espécies: quando o provocam, este verme defende-se com a libertação de um muco que é tóxico para crustáceos. Encontra-se debaixo de rochas na costa de países do hemisfério Norte, como o Reino Unido e a Suécia. “Na costa Oeste da Suécia é encontrado a dez metros de profundidade e até mais abaixo”, lê-se no artigo científico.
Foi então na costa da Suécia que os cientistas recolheram exemplares do Lineus longissimus que analisaram depois em laboratório. Aí retiraram-lhes muco. Descobriram assim neste verme uma nova família de toxinas, das quais destacaram uma, a que deram o nome alfa-1-nemertida. Os cientistas dizem que é muito poderosa. Porque, quando injectaram doses do muco no caranguejo-verde (Carcinus maenas) e na barata-argentina (Blaptica dubia), ficaram paralisados e morreram.
Mas as experiências com a toxina alfa-1-nemertida não terminaram por aqui. Os cientistas observaram que essa toxina evitava a inactivação dos canais de sódio da barata-alemã (Blattella germanica), da mosca-da-fruta (Drosophila melanogaster) e de um ácaro (Varroa destructor) – todos insectos. Ora, os canais de sódio situam-se em células nervosas do sistema nervoso periférico e são proteínas que formam um poro na membrana dessas células e permitem a passagem de iões, que acabam por desencadear um sinal. Ao evitar a inactivação desses canais de sódio, o Lineus longissimus causa sinais eléctricos contínuos nos nervos e nos músculos dessas três espécies, o que acaba por resultar em paralisia.
“Esta toxina peptídica é a substância mais tóxica que foi encontrada no reino animal na Suécia e o facto de ser possível usá-la torna esta descoberta ainda mais excitante”, considera Ulf Göransson, da Universidade de Upsala (Suécia) e coordenador do trabalho, citado em comunicado da sua instituição. “Do ponto de vista da investigação, é interessante descobrir uma nova toxina na nossa fauna, num grupo de animais que basicamente não tem sido estudado.”
Também é perigosa para os humanos? Não, a toxina apenas atrasa a inactivação dos canais de sódio dos humanos e de outros mamíferos. Por essa razão, os cientistas não a consideram tóxica para os mamíferos.
Esta toxina pode assim ter uma aplicação comercial, nomeadamente como insecticida, diz Johan Rosengren, da Universidade de Queensland (Austrália) e outro dos autores do artigo, num comunicado da sua universidade. Afinal, toxinas de aranhas, de escorpiões ou de serpentes têm sido usadas nos medicamentos ou na agricultura. “Quando comparada com toxinas semelhantes de aranhas, a alfa-1-nemertida é pelo menos três vezes mais potente”, salienta Johan Rosengren, acrescentando que ainda é necessário caracterizá-la melhor para se obterem resultados. “Esperamos vir a descobrir se podemos usar as moléculas de defesa deste verme [a toxina] para controlar pragas de insectos que destroem culturas e propagam doenças.”