Skripal: Santos Silva diz que crise diplomática “está longe do seu fim”

Embaixador russo em Lisboa, Oleg Belous, admitiu que Moscovo poderá retaliar diplomaticamente, se Lisboa endurecer a sua posição.

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Augusto Santos Silva volta ao Parlamento nesta quarta-feira, justamente para falar da crise diplomática entre o Ocidente e a Rússia LUSA/MIGUEL A. LOPES

O ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, admitiu nesta terça-feira que a crise diplomática com a Rússia “está longe do fim” e reiterou que Portugal mantém em aberto a possibilidade de aplicar sanções diplomáticas adicionais.

O ministro português, que falava no Parlamento à margem de uma reunião da Comissão de Economia, Inovação e Obras públicas, comentava assim as palavras do embaixador russo em Lisboa, Oleg Belous, que em recente entrevista à agência Lusa admitiu que Moscovo poderia retaliar diplomaticamente, se Lisboa endurecer a sua posição, na crise diplomática desencadeada pelo caso do ex-espião duplo Serguei Skripal, a 4 de Março em Salisbury, no Sul de Inglaterra.

“Nós estamos ainda num processo diplomático, de crise diplomática, que está longe do seu fim. Estamos num processo evolutivo. Da mesma maneira que Portugal se reserva a posição de fazer evoluir as medidas que adoptou — de acordo com uma evolução que esperemos positiva, mas também pode ser negativa no processo em causa —, também aceito que a Federação Russa assuma o mesmo princípio”, disse Santos Silva.

Para já, a diplomacia chamou para consultas o embaixador português em Moscovo.

“Está tudo ainda em aberto. Começamos por participar na decisão da União Europeia de chamar o seu embaixador para consultas, da decisão da NATO de expulsar diplomatas russos em Bruxelas — acreditados junto da NATO — e nós próprios alinhamos na posição da UE, chamando o nosso embaixador para consultas”, recordou Santos Silva.

O ministro acrescentou que Portugal está “vinculado a uma decisão do Conselho Europeu” nos termos da qual se coordenará com os outros Estados-membros nas acções consideradas necessárias “face às respostas ou à ausência de respostas das autoridades russas”.

“Do nosso ponto de vista, todas as opções estão em aberto”, insistiu o ministro dos Negócios Estrangeiros.

Na segunda-feira, em entrevista à Lusa, o embaixador russo em Lisboa disse que “seria um problema do ministério português, se ficassem sem diplomatas” em Moscovo. “Não estamos interessados em eventuais dificuldades que possam surgir na embaixada portuguesa em Moscovo. No caso de eventual expulsão de algum diplomata, o trabalho da representação diplomática será paralisado e podem ser consideradas várias opções. Sabemos que Portugal tem poucos diplomatas em Moscovo”, disse Oleg Belous.

Augusto Santos Silva responde nesta quarta-feira sobre este caso na reunião da comissão conjunta de Negócios Estrangeiros e Assuntos Europeus, agendada para as 9h15, no Parlamento em Lisboa.

Serguei Skripal, de 66 anos, e a filha, Yulia, de 33, foram envenenados a 4 de Março em Salisbury, no Sul de Inglaterra, com um gás neurotóxico produzido, segundo as autoridades britânicas, no âmbito de um programa químico nuclear soviético, o que Moscovo nega. O incidente de Salisbury desencadeou entre Moscovo e o Ocidente uma das piores crises diplomáticas dos últimos anos. No total, o Reino Unido e seus aliados, entre a maioria dos países da União Europeia e a NATO, anunciaram mais de 150 expulsões de diplomatas russos dos seus territórios. Portugal está no grupo de países que não expulsou diplomatas.

A Rússia ripostou adoptando medidas idênticas em relação a um número equivalente de diplomatas desses Estados. Após ter expulsado, a 17 de Março, 23 diplomatas britânicos e encerrado o consulado britânico em São Petersburgo, bem como o British Council na Rússia, Moscovo exigiu no sábado a Londres que reduza os seus funcionários diplomáticos em mais de 50 pessoas para obter uma “paridade” das missões diplomáticas.