China sobe tarifas sobre vários produtos importados dos EUA
Produtos agrícolas são o principal alvo, mas a soja fica de fora. É a resposta a medidas semelhantes anunciadas por Donald Trump.
A China subiu nesta segunda-feira as tarifas de importação de carne de porco, fruta e outros produtos dos Estados Unidos, num novo episódio de uma disputa comercial com Washington que se tem reflectido em nervosismo nas praças financeiras em todo o mundo. O Ministério das Finanças de Pequim anunciou que irá “suspender as concessões relativas a tarifas de importação” em mais de 120 bens provenientes dos EUA.
Em comunicado, o Ministério das Finanças chinês afirmou que as taxas servem de retaliação à decisão do Presidente norte-americano, Donald Trump, de subir as tarifas sobre o aço e alumínio oriundos da China. Pequim acusa os EUA de “violação grave dos princípios de não-discriminação, pedra angular do sistema multilateral de comércio” e assegura que a opinião pública chinesa pediu ao Governo que "tome medidas para salvaguardar os interesses da indústria e do país”.
“Enquanto as duas maiores economias do mundo, a cooperação é a opção correcta”, disse o Ministério das Finanças, defendendo a via do diálogo e da negociação e não da guerra comercial. Já Trump não parece querer seguir a mesma via. O Presidente norte-americano afirmou que as guerras comerciais "são boas" e que será fácil para os EUA vencê-las. Escreve a BBC que as autoridades norte-americanas já têm pensados novas tarifas para importações chinesas. De acordo com a Reuters, os grandes alvos serão produtos de alta tecnologia.
A medida é apresentada como represália por reiteradas violações de direitos de propriedade intelectual por parte de Pequim. Actualmente, todas as empresas estrangeiras que se queiram instalar no gigante asiático devem prescindir da sua propriedade intelectual, o que desagrada aos gigantes tecnológicos e ao Governo norte-americano.
Esta é uma questão onde o Congresso, incluindo a oposição democrata, oferece algum apoio ao tipo de medidas avançadas por Trump. “Os legisladores norte-americanos estão procurar formas mais agressivas de pressionar a China a abrir os mercados, sem que faça refém a tecnologia norte-americana”, disse a senadora norte-americana, Elizabeth Warren, no domingo, durante uma visita de três dias à China, cita o Guardian.
As medidas anunciadas por Trump poderão afectar as importações chinesas num valor de até 60 mil milhões de dólares (mais de 48 mil milhões de euros). Os analistas descartaram impactos económicos imediatos, mas afirmaram que a retoma económica mundial poderá atrasar-se caso outros países adoptem também medidas proteccionistas. O receio de uma guerra comercial em larga escala entre Washington e Pequim tem penalizado a cotação dos principais índices bolsistas internacionais.
Soja americana de fora
A decisão anunciada agora pelas autoridades chinesas inclui um aumento de 25% nas tarifas de importação de carne porco ou alumínio e uma taxa de 15% para maçãs, amêndoas, fruta fresca e seca, ginseng e outros bens norte-americanos. Pelas contas do Governo chinês, no ano passado, as importações chinesas daqueles produtos, a partir dos EUA, fixaram-se em três mil milhões de dólares (2400 milhões de euros).
Vários analistas notaram que as tarifas anunciadas esta segunda-feira não afectarão algumas das maiores exportações dos EUA para a China, como a soja, o que indica que Pequim não quer entrar a pés juntos numa guerra comercial.
“A quantidade [de produtos] sujeitos a tarifas não é assim tão elevada, o que mostra que a China está disposta a moderar a intensidade do conflito comercial começado pelos EUA”, disse Shi Yinhong, director do centro de investigação sobre os Estados Unidos, na Universidade Renmin de Pequim, ao Guardian.
No total, em 2017, as importações chinesas de produtos agrícolas norte-americanos fixaram-se em 20 mil milhões de dólares (16.200 milhões de euros). Só em carne de porco, o valor ascende a mais de mil milhões de dólares, o que torna a China no terceiro maior mercado para a carne de porco norte-americana.